Zelador angolano pede demissão após bilhete racista em escola de Anápolis
Zelador pede demissão após bilhete racista em escola

Trabalhador angolano é vítima de racismo em escola particular

Um caso de racismo e xenofobia levou o zelador Almiro Martins, de 21 anos, a pedir demissão de uma escola particular em Anápolis, na região central de Goiás. Natural de Luanda, capital de Angola, o jovem trabalhava há aproximadamente cinco meses na instituição quando encontrou um bilhete com ofensas racistas no local de trabalho.

O episódio ocorreu no dia 25 de novembro, quando Almiro descobriu a mensagem de ódio no vestiário onde realizava suas atividades profissionais. A nota continha frases como "Não sei você, mas eu tenho nojo da sua raça" e "Vai embora, africano de merda".

Duas promoções em cinco meses não evitaram discriminação

Ironia do destino: apesar do ambiente hostil que culminou no episódio racista, Almiro havia sido promovido duas vezes durante seu curto período de cinco meses na escola. Sua dedicação ao trabalho havia sido reconhecida pela direção, que o elevou de cargo em duas oportunidades.

Ruth Rocha, esposa do zelador, revelou que o marido já relatava situações desconfortáveis no ambiente de trabalho. Paulino Henjengo, irmão de Almiro, acrescentou que o incômodo de alguns colegas poderia estar relacionado à boa relação que o angolano mantinha com o proprietário da instituição.

Impacto psicológico e mudança de perspectiva

O bilhete racista causou um profundo impacto emocional no casal. Ruth, que é professora e estava na escola no momento em que o marido encontrou a mensagem, descreveu a cena: "Eu chorei junto com ele. Foi um dos dias mais difíceis. Pouco depois eu precisava entrar em sala para dar aula, mas a situação deixou a gente sem chão".

A esposa compartilhou ainda uma declaração angustiante de Almiro: "No meu país eu não precisava me preocupar com a minha cor, agora eu preciso". A fala revela como a experiência racial no Brasil difere da vivência do jovem em seu país de origem.

Posicionamento da escola e investigação

O sócio-proprietário do colégio, Ivan de Abreu Júnior, gravou um vídeo se manifestando sobre o caso. Ele classificou o episódio como "covarde" e afirmou que o crime ocorreu em um "ponto cego" da instituição.

O proprietário destacou sua relação de amizade com Almiro, mencionando que o zelador já havia visitado sua casa e participado de confraternizações familiares. "Minha maior preocupação é com o ser humano Almiro. Sempre tratei ele como amigo. Vamos descobrir quem fez essa covardia", declarou.

Até o momento, o autor das ofensas racistas não foi identificado, e o caso foi registrado na delegacia. A investigação segue em andamento para apurar responsabilidades pelo crime de racismo.

Crescimento alarmante de casos racistas em Goiás

Este lamentável episódio ocorre em um contexto preocupante no estado. Dados recentes do Anuário de Segurança revelam que os casos de racismo mais do que triplicaram em Goiás, registrando o maior crescimento percentual entre todos os estados brasileiros.

A situação expõe a urgência de medidas efetivas contra a discriminação racial e xenofobia no ambiente educacional e na sociedade goiana como um todo.