Vítima de intolerância religiosa em Mogi Mirim relata 7 facadas e perda de dedo
Vítima de intolerância religiosa fala após alta

Jovem sobrevive a ataque brutal motivado por intolerância religiosa

A jovem Miryan de Oliveira Silva, vítima de tentativa de homicídio motivada por intolerância religiosa em Mogi Mirim, interior de São Paulo, falou pela primeira vez após receber alta hospitalar na última quarta-feira (19). O ataque brutal resultou em sete golpes de faca pelo corpo da vítima e na perda de parte de um dedo da mão esquerda.

Perseguição que começou com cartas ameaçadoras

Segundo Miryan, as ameaças tiveram início quando ela se mudou para o bairro em junho de 2025. A primeira carta chegou com manchas de sangue e trazia a mensagem: "Se você pensa que veio para esse bairro para fazer macumba, você está enganada. Vamos ter matar".

A vítima, que é praticante da umbanda, relatou que inicialmente tentou ignorar as ameaças, mas a situação se agravou rapidamente. "Eu fui levando, fui deixando de lado, e foi ficando frequente. Carta, carta, carta... E eu: 'gente, o que está acontecendo?'", lembra a jovem.

Escalada da violência com pichações e ataques

Os episódios de intolerância religiosa evoluíram para atos mais graves. A casa de Miryan amanheceu pichada em várias ocasiões, além de sofrer ataques com fezes e pedradas. "Foi onde eu tive que procurar, ver quem era, ver gravações, fiz boletim, foi quando descobri quem estava fazendo. E não parou. Foi quando jogaram fezes, pedrada.. Nossa, muita coisa", conta a vítima.

De acordo com relatos da família, alguns vizinhos confirmaram que o casal agressor já havia distribuído panfletos na região alertando sobre "uma macumbeira" morando na rua.

Ataque final quase termina em tragédia

No dia 13 de novembro, a perseguição culminou em uma tentativa de homicídio. O casal de vizinhos, identificado como Marcelo Aparecido Ramalho, de 54 anos, e Leide Cristiane da Silva Borges, de 39 anos, invadiu a residência de Miryan armado com uma adaga e uma barra de ferro.

"Eles vieram para cima de mim, me agrediram com barra de ferro, ela veio pela frente me esfaqueando, ele me segurando. Eu consegui descer a balaclava dele, eu vi que era ele. Foi quando ela se desesperou, falou para me segurar, me xingou, e falou que iria me matar", relata Miryan.

Foi durante a luta corporal que a vítima perdeu parte do dedo da mão esquerda, quando tentou se defender de uma facada direcionada ao peito. "Consegui defender com o dedo, consegui jogar a faca longe. Foi quando comecei a gritar ajuda, gritar muito. E ouvi eles aqui dentro, quebrando tudo", descreve.

Casal é preso e confessa crime

Os agressores foram presos em flagrante pela Polícia Civil. Marcelo Ramalho confessou que ele e a esposa esfaquearam a vizinha, enquanto Leide Borges admitiu ter pichado o muro da residência da vítima.

A tia de Miryan, Chayene, descreve a sobrinha como "uma menina trabalhadeira" que sempre buscou evitar conflitos. "É só para cada um viver o seu e deixar a gente viver o que a gente gosta. Cada um tem que procurar Deus da forma que acha melhor", afirma.

A família segue unida em busca de justiça. "A única coisa que eu quero é a justiça, porque não é a escolha da nossa religião, que define o nosso caráter", destaca Chayene, representando o sentimento de todos os familiares da vítima.