Padre Júlio Lancelotti critica internação compulsória em Sorocaba
Padre Júlio Lancelotti critica internação compulsória

O conhecido defensor dos direitos humanos, padre Júlio Lancelotti, visitou Sorocaba na quinta-feira (6) e fez duras críticas à política de internação compulsória de pessoas em situação de rua implementada na cidade. Durante sua visita, o religioso recebeu o título de cidadão sorocabano em sessão solene na Câmara Municipal.

Questionamentos sobre a internação compulsória

O padre demonstrou preocupação com o decreto assinado pelo prefeito Rodrigo Manga antes de seu afastamento pela Justiça Federal. Lancelotti questionou publicamente a eficácia da medida e exigiu que o poder público apresente dados concretos sobre os resultados obtidos até o momento.

Em seu discurso, o religioso fez uma série de indagações diretas: "Quantos já foram internados compulsoriamente? Por quanto tempo? Qual foi o efeito dessa internação? Após a internação compulsória, eles não são mais moradores de rua, nem usuários? O que foi que aconteceu?"

Falta de transparência e resultados

Segundo Lancelotti, essas perguntas fundamentais deveriam ser respondidas tanto pelo executivo municipal quanto pelas universidades da região. Ele repetiu os questionamentos, cobrando evidências concretas sobre a política implementada.

"A pessoa que foi internada compulsoriamente, hoje, onde ela está? Na universidade? Está já trabalhando? Já conseguiu uma casa para morar? Já tem um salário suficiente para sobreviver?", questionou o padre, enfatizando que essas informações são cruciais para avaliar a efetividade da medida.

Desigualdade social e críticas às campanhas contra esmolas

Questionado sobre as diferenças entre o tratamento dado às pessoas em situação de rua na capital e no interior, Lancelotti foi categórico: "A desigualdade é a mesma, porque todas as cidades estão submetidas ao mesmo regime socioeconômico e político".

O religioso também ironizou as campanhas contra a doação de esmolas, comuns em cidades do sudeste brasileiro. Para ele, essas placas com a mensagem "não dê esmola" deveriam ser colocadas na frente das prefeituras. "Os orçamentos sociais é que são uma verdadeira esmola. O orçamento da saúde, da educação, da moradia, aí é que está a esmola", declarou.

Reconhecimento como cidadão sorocabano

O título de cidadão sorocabano foi oferecido pelo vereador Izídio de Brito (PT) durante cerimônia noturna na Câmara Municipal. O parlamentar justificou a homenagem destacando o trabalho do padre em defesa dos mais vulneráveis.

"Reconhecer o Padre Júlio é celebrar todos aqueles que, com fé e coragem, lutam contra a fome e pela dignidade humana", afirmou o vereador, acrescentando que "vivemos em uma cidade onde mais de 70 mil famílias enfrentam dificuldades diárias para se alimentar".

O religioso é conhecido nacionalmente por sua atuação em defesa da população em situação de vulnerabilidade social e mantém um trabalho constante junto à população de rua na capital paulista.