O Ministério Público Federal (MPF) está em tratativas para criar um memorial no Amazonas em homenagem ao indigenista Bruno Pereira e ao jornalista britânico Dom Phillips. A iniciativa, que atende a determinações da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), surge três anos após o brutal assassinato dos dois na região do Vale do Javari, extremo oeste do estado.
Trâmites para a criação do espaço de memória
A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC) é a responsável pelas articulações. Segundo o órgão, estão sendo realizadas reuniões e encontros virtuais com órgãos federais para viabilizar o projeto. O objetivo central é garantir direitos fundamentais como memória, verdade, cidadania e dignidade.
No último mês, a PRDC se reuniu com procuradores da República em Tabatinga, município que atende a região do Vale do Javari, para coletar informações e dar andamento ao processo. Novos encontros estão previstos para discutir medidas concretas para a criação e a manutenção do espaço, com participação futura dos familiares das vítimas.
O crime que chocou o Brasil e o mundo
Bruno Pereira e Dom Phillips desapareceram no dia 5 de junho de 2022 durante uma expedição na Terra Indígena Vale do Javari, que engloba os municípios de Guajará e Atalaia do Norte. Eles foram vistos pela última vez quando passavam de barco pela comunidade de São Rafael, com destino a Atalaia do Norte.
O jornalista trabalhava em um livro intitulado "How to save the Amazon?" (Como salvar a Amazônia?), com o objetivo de documentar como os povos indígenas preservam a floresta e se defendem de invasores. Os restos mortais dos dois foram encontrados somente em 15 de junho daquele ano. A polícia concluiu que eles foram mortos a tiros, e seus corpos, posteriormente, esquartejados, queimados e enterrados.
Processo judicial e acusados
Vários indivíduos foram denunciados e respondem pelo crime. Amarildo da Costa de Oliveira (Pelado) e Jefferson da Silva Lima (Pelado da Dinha) serão julgados por duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáver, e ambos permanecem presos. Oseney da Costa de Oliveira (Dos Santos) aguarda a finalização do julgamento em prisão domiciliar com monitoração eletrônica.
O suposto mandante, conhecido pelo apelido de Colômbia, também foi indiciado pela Polícia Federal. Além deles, pescadores foram denunciados pelo MPF por utilizarem um menor de idade para ajudar a ocultar os cadáveres.
A criação do memorial representa um passo importante na busca por justiça e na preservação da história de Bruno e Dom, cujas mortes evidenciaram os graves conflitos e riscos enfrentados por defensores do meio ambiente e da cultura indígena na Amazônia.