Guarda Municipal sofre racismo em loja de Suzano no Dia da Consciência Negra
Guarda Municipal vítima de racismo em loja de Suzano

Agente de segurança é vítima de discriminação racial após plantão

No Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, um caso de racismo chocou a região do Alto Tietê. Jonatas Santos Silva Junior, Guarda Civil Municipal de Mogi das Cruzes, relata ter sido vítima de discriminação racial em uma loja da rede Obramax em Suzano.

O incidente ocorreu na sexta-feira, 14 de novembro, quando Jonatas foi à loja após seu plantão para orçar pisos para a reforma do banheiro de sua casa. Vestindo calça, camiseta e chinelo, o agente de segurança foi monitorado desde o momento em que entrou no estabelecimento devido à cor de sua pele.

O constrangimento na saída da loja

De acordo com o relato de Jonatas, quando decidiu sair da loja sem fazer a compra, o segurança fechou a porta e o impediu de sair. O funcionário acusou o guarda municipal de estar levando fitas isolantes que teria pegado anteriormente, mesmo depois de Jonatas ter explicado que não estava com os produtos.

"Eu falei que sou Guarda Municipal de Mogi das Cruzes e mostrei minha funcional. Ele falou: 'não quero ver sua funcional, senão colocar as fitas isolantes no lugar, você não vai sair'", relembrou Jonatas em entrevista.

O guarda municipal contou que chamou a gerente, mas se sentiu humilhado e constrangido durante todo o processo. "A gerente não ouviu minha versão. Será que, se eu fosse branco, estivesse vestido melhor, não tivesse de chinelo, eu não estaria melhor, não ia ser tratado melhor?", questionou.

Desdobramentos do caso

Jonatas ligou para seu superior na Guarda Civil Municipal, e uma viatura foi enviada ao local. O segurança já não estava mais presente quando os agentes chegaram, mas a gerente, acompanhada de advogado, e Jonatas foram à Delegacia Central de Suzano registrar ocorrência.

Durante o depoimento na delegacia, o segurança admitiu que monitorou Jonatas desde sua entrada na loja por considerá-lo "suspeito". O volume que o funcionário alegou ter visto na cintura do guarda municipal era, na verdade, sua arma de serviço, para a qual possui porte em todo o estado de São Paulo.

A advogada do GCM, Cecilia Fragoso, informou que vai registrar novo boletim de ocorrência com enfoque racial e pretende entrar com ação civil indenizatória. "Nós vamos fazer um boletim que verse sobre a questão racial, de injúria e de calúnia, porque foi dado a ele um crime que ele não cometeu", afirmou.

Impacto pessoal e resposta da empresa

Pai de dois filhos e padrasto de uma menina, Jonatas disse que esta foi a primeira vez que sofreu racismo explicitamente. O agente se emocionou ao pensar no filho mais novo, que se parece com ele: "Se ele sofresse racismo desse tipo, eu até me emociono, eu não queria que ele passasse por isso, só pela cor do tom da pele, ser pré-julgado".

A Obramax emitiu nota oficial afirmando seu "compromisso inegociável com a ética, o respeito e o tratamento digno" e repudiando qualquer forma de preconceito. A empresa determinou à terceirizada responsável pela segurança o afastamento dos colaboradores envolvidos e a realização de treinamento adicional para reforçar protocolos de abordagem.

Jonatas, que nunca havia sofrido discriminação racial dessa forma, confessou que a experiência mudou sua perspectiva: "Por ser agente de segurança pública, eu fico camuflado, mas o racismo existe no Brasil. O racismo é velado, ele é encoberto, mas ele existe em todos os lugares".