
Imagine só: você está no seu direito de protestar, exercendo a cidadania, quando de repente leva um tiro no rosto. Foi exatamente isso que aconteceu com um trabalhador durante uma manifestação no Recife — e agora, anos depois, a Justiça finalmente deu razão a ele.
O caso, que parece saído de um filme de ação, aconteceu na Avenida Dantas Barreto, no São José, área central da cidade. Era 2015, um ano que muitos nem lembram mais, mas que marcou para sempre a vida desse homem.
O dia que tudo mudou
Naquele 29 de abril, o clima estava pesado. Manifestantes ocupavam as ruas, a polícia fazia a contenção — e no meio desse turbilhão, um projétil de borracha acertou em cheio o rosto do trabalhador. A cena foi caótica, digna dos piores pesadelos.
O que me faz pensar: até onde vai o direito de manifestação? E o dever do Estado em proteger os cidadãos?
O homem, que trabalhava como assistente administrativo — um cargo comum, desses que sustenta famílias — teve que ser socorrido às pressas. Levado para o Hospital da Restauração, um dos mais movimentados do Recife, ele descobriu a extensão dos estragos: fratura no nariz e no seio maxilar. Ou seja, o rosto quebrado.
Uma batalha judicial de anos
Agora vem a parte que parece injustiça em cima da injustiça. O trabalhador entrou na Justiça, mas o Estado — pasmem — tentou se esquivar da responsabilidade. Alegaram que a polícia agiu dentro dos protocolos, que era uma situação de conflito, o velho discurso de sempre.
Mas a 1ª Vara da Fazenda Pública do Recife não comprou essa história. O juiz Rafael de Albuquerque Brasil, num daqueles momentos que renovam a fé na Justiça, foi categórico: o Estado falhou feio. E quando o poder público erra, tem que consertar — ou pelo menos indenizar.
A decisão saiu agora, em outubro de 2025, mas o trauma continua. Dez anos se passaram, mas algumas marcas — essas que não aparecem no rosto — permanecem.
O valor da dignidade
O juiz estabeleceu uma indenização de R$ 20 mil por danos morais. Parece pouco? Talvez. Mas é um reconhecimento importante de que o Estado não pode sair atirando em qualquer um — literalmente.
O que mais me impressiona nesse caso todo é a resiliência do trabalhador. Enfrentar o poder público não é brincadeira — é como David contra Golias, só que com processos judiciais em vez de funda.
E pensar que tudo isso aconteceu porque ele estava exercendo um direito constitucional. Ironia das grandes, não?
O Estado, claro, ainda pode recorrer. Mas a decisão em primeira instância já manda um recado importante: bala de borracha também mata, também fere, também destrói vidas. E quando é uso desproporcional da força, alguém tem que pagar a conta.
Enquanto isso, o trabalhador segue sua vida — com o nariz curado, mas com a lembrança de que um dia, ao sair para protestar, quase perdeu o rosto. E o Estado? Bem, o Estado aprende — ou deveria aprender — que nem sempre a força é a resposta.