Três adolescentes negras denunciam revista ilegal e constrangimento em loja do DF
Adolescentes negras denunciam revista ilegal em shopping do DF

Três adolescentes negras, com idades de 12, 13 e 15 anos, entraram com uma ação na Justiça do Distrito Federal após denunciarem terem sido vítimas de perseguição, acusação de furto e revista íntima ilegal em uma loja de maquiagem. O episódio, classificado pelas famílias como constrangimento ilegal com motivação racista, ocorreu em agosto no JK Shopping, localizado em Taguatinga.

Detalhes da abordagem constrangedora

De acordo com o boletim de ocorrência registrado, as jovens realizaram compras na loja Império das Maquiagens e seguiram para a praça de alimentação. Foi nesse momento que perceberam que estavam sendo seguidas por uma funcionária do estabelecimento. Ao saírem de um banheiro, foram abordadas pela gerente da loja, que estava acompanhada por dois seguranças do shopping – um homem e uma mulher.

As vítimas afirmam que foram questionadas sobre a compra e obrigadas a mostrar o comprovante. Em seguida, teriam sido levadas para um corredor de saída de emergência, local considerado mais reservado. Lá, segundo os relatos, a gerente pediu que as adolescentes abrissem suas bolsas e, de forma ainda mais invasiva, que levantassem as blusas para verificar se escondiam produtos. Nenhum item não pago foi encontrado.

Traumas e busca por Justiça

As famílias das adolescentes acionaram o Poder Judiciário contra tanto o shopping quanto a loja, alegando discriminação racial e revista íntima ilegal. A defesa cita a Lei nº 13.271/2016, que proíbe esse tipo de abordagem em estabelecimentos comerciais. As mães descrevem sequelas psicológicas profundas nas jovens.

"Minha filha está apavorada, chora muito e disse que achou que fossem machucar elas", contou ao g1 a mãe da menina de 12 anos, em sua primeira saída autorizada com amigas. Já a adolescente de 15 anos, segundo sua mãe, desenvolveu crises de ansiedade e pesadelos após o ocorrido. "Elas foram humilhadas, acusadas de roubo mesmo com o comprovante. Creio que foi racismo", afirmou.

Posicionamentos das partes envolvidas

O delegado Thiago Boeing, da 17ª Delegacia de Polícia, informou que a gerente da loja já prestou depoimento e que o caso aguarda a junção das imagens de segurança solicitadas ao shopping para então ser analisado para eventual indiciamento.

Em nota, o JK Shopping confirmou a ocorrência do episódio e afirmou que sua segurança foi acionada de forma preventiva. A administração do shopping declarou que não compactua com constrangimento ou discriminação e que está em diálogo com a loja, colaborando com as autoridades.

A loja Império das Maquiagens, por sua vez, negou veementemente as acusações em um vídeo publicado nas redes sociais. A empresa afirmou que não houve toque, revista íntima ou levantamento de blusas. Em sua defesa, destacou que a gerente envolvida é uma funcionária exemplar, negra e de religião de matriz africana, e que a empresa possui diversos colaboradores negros em cargos de liderança. A loja também acusou as famílias de buscarem mídia e alega ter recebido uma proposta extrajudicial de R$ 100 mil para abafar o caso, o que teria sido recusado, preferindo que o assunto seja investigado pela polícia.

O caso segue sob investigação policial e tramita na Justiça, colocando em evidência discussões urgentes sobre perfilamento racial, abuso em revistas e o trauma causado por abordagens discriminatórias a jovens consumidoras.