Um adolescente palestino-americano de 16 anos recuperou a liberdade nesta quinta-feira, 27 de novembro de 2025, após passar nove meses detido em Israel sem que seu caso fosse submetido a julgamento. Mohammed Zaher Ibrahim foi transferido diretamente para um hospital ao deixar o sistema prisional, apresentando sérios problemas de saúde.
Estado de saúde preocupante
Segundo relatos familiares, o jovem deixou a prisão em estado debilitado, com perda significativa de peso e sinais evidentes de escabiose, conhecida popularmente como sarna. A condição física do adolescente exigiu atenção médica imediata, sendo encaminhado para tratamento hospitalar logo após sua libertação.
Mohammed tinha apenas 15 anos quando foi detido em fevereiro deste ano, durante uma operação militar israelense realizada durante a noite na casa de sua família em Silwad, cidade localizada na Cisjordânia ocupada. As autoridades israelenses justificaram a prisão alegando que o adolescente havia atirado pedras contra colonos em uma estrada próxima a assentamentos. A família, no entanto, nega veementemente essas acusações.
Tratamento durante a detenção
Parentes descreveram que Mohammed foi algemado e vendado durante sua transferência entre unidades prisionais conhecidas por impor condições severas aos detentos palestinos. Durante meses, a família perdeu completamente o contato com o jovem, sem informações sobre seu paradeiro ou estado de saúde.
O caso ganhou repercussão internacional principalmente devido à dupla cidadania de Mohammed. Ele é o mais novo entre cinco irmãos de uma família que divide residência entre Silwad, na Cisjordânia, e Palm Bay, na Flórida, Estados Unidos.
Mobilização internacional e tragédia familiar
A situação do adolescente mobilizou mais de cem organizações de direitos humanos e dezenas de parlamentares democratas norte-americanos, que pressionaram o governo dos EUA a intervir no caso. O Departamento de Estado passou a acompanhar a situação de perto e designou um funcionário específico para dialogar com as autoridades israelenses.
O pai do jovem, Zaher Ibrahim, tomou medidas drásticas em busca de informações, enviando cartas a congressistas norte-americanos e afirmando ter "esgotado todos os recursos locais" para obter notícias sobre o filho.
Enquanto Mohammed permanecia detido, a família sofreu outra tragédia. Sayfollah Musallet, primo do adolescente, de 20 anos e também cidadão americano, foi espancado até a morte por colonos israelenses. Até o momento, não há registro de prisões relacionadas a este crime.
Acordo judicial e situação atual
A libertação de Mohammed ocorreu após um acordo firmado na Justiça militar israelense. De acordo com informações da família, o adolescente teria assinado uma confissão e recebido uma pena suspensa. O gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu emitiu uma nota afirmando que o caso seguiu o "devido processo legal" e classificou as acusações contra o jovem como "graves".
Organizações não governamentais que monitoram a situação na região estimam que aproximadamente 350 palestinos menores de idade estão atualmente sob custódia israelense. Um aspecto relevante do conflito é a diferença nos sistemas judiciais: na Cisjordânia, palestinos são julgados por tribunais militares, enquanto israelenses respondem a processos no sistema penal civil.
O caso de Mohammed Ibrahim ilustra as complexidades e controvérsias do conflito israelense-palestino, especialmente quando envolve cidadãos com dupla nacionalidade e menores de idade submetidos a processos legais militares.