Itália cria via preferencial para trabalho de descendentes, incluindo brasileiros
Itália facilita trabalho para descendentes de italianos

O governo da Itália implementou uma nova estratégia em sua política migratória, que combina rigor com abertura seletiva. Enquanto endurece o discurso sobre a entrada geral de estrangeiros e restringe o acesso à cidadania por direito de sangue (ius sanguinis), as autoridades também criaram uma via preferencial para descendentes de italianos que desejam trabalhar no país.

Um novo canal para a diáspora italiana

Um decreto articulado pelo vice-primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, e publicado no final de novembro de 2025, estabelece um caminho especial fora das cotas anuais do sistema comum. A medida é direcionada a cidadãos de nações com forte presença da diáspora italiana, como Brasil, Argentina, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Uruguai e Venezuela.

Essa nova regra permite que descendentes solicitem uma autorização de residência para trabalho assalariado (permesso di soggiorno per lavoro subordinato) sem depender do disputado Decreto Flussi. O sistema tradicional libera um número limitado de autorizações apenas uma vez ao ano, que costumam se esgotar em poucas horas.

Oportunidades e ressalvas para os brasileiros

A iniciativa visa atrair mão de obra para setores que enfrentam escassez de trabalhadores, ao mesmo tempo em que privilegia quem já tem raízes italianas, reforçando a narrativa de um "retorno" da própria diáspora. No entanto, especialistas alertam para a necessidade de cautela.

Welliton Girotto, CEO da Master Cidadania, explica que a medida não é um passe livre. "Ninguém será contratado do Brasil sem falar a língua ou sem se enquadrar nas profissões mais demandadas, como fábricas, restaurantes e hotéis", afirma. Ele também destaca um ponto crucial sobre o processo de naturalização.

Mesmo descendentes que renunciam aos tribunais para obter a cidadania por ius sanguinis – um direito adquirido no nascimento – precisam cumprir dois anos de trabalho assalariado na Itália antes de solicitar a naturalização. Girotto classifica essa via resultante como uma "cidadania de classe B", em comparação com a obtida diretamente pelo direito de sangue.

Estratégia de "morde e assopra" na imigração

A política reflete uma abordagem dual do governo italiano. De um lado, há um endurecimento retórico e prático para a imigração geral. Do outro, há uma abertura calculada para um grupo específico: os descendentes, que são vistos como uma força de trabalho potencialmente mais integrada culturalmente e que responde a necessidades econômicas pontuais.

O decreto, portanto, representa uma tentativa de equilibrar pressões políticas internas por controle de fronteiras com as demandas do mercado de trabalho por profissionais em setores essenciais. A escolha por países com grandes comunidades de origem italiana indica um esforço para capitalizar laços históricos e familiares.

Para brasileiros com ascendência italiana, a nova regra pode ser uma porta de entrada mais ágil, mas não elimina os desafios práticos de se mudar para a Itália, como a necessidade de qualificação, domínio do idioma e adaptação a um mercado de trabalho competitivo em setores específicos.