
Quem passa pelo movimentado cruzamento da Avenida Frei Serafim, em Teresina, dificilmente imagina que por trás daquela jovem que vende doces com um sorriso no rosto há uma história de resiliência que já dura dois longos anos. Todos os dias, rainha do trânsito, ela transforma horas de sol e poeira em mensalidade da faculdade.
Parece clichê de filme, mas é pura realidade. Enquanto muitos reclamam da falta de oportunidades, essa garota — vamos chamá-la de Maria, embora seu nome real seja outro — decidiu criar a própria chance. Dois anos atrás, com uma ideia simples e coragem de sobra, ela estacionou seu carrinho na beira da rua e nunca mais saiu dali.
Não é moleza, não
Acordar às quatro da manhã, preparar os doces, arrumar o carrinho e enfrentar o calor de quase 40 graus — tudo isso antes das oito da manhã. “Tem dia que a vontade de desistir aparece, sim”, ela admite, sem rodeios. “Mas aí eu lembro do meu sonho: me formar, ter um diploma, dar orgulho pra minha família.”
E os números? Impressionam até quem entende de negócio. R$ 260 por dia, em média. Às sextas-feiras, então, o movimento é tanto que ela mal tem tempo para respirar. Brigadeiro, beijinho, cajuzinho... os clássicos não falham. Mas ela também inova: “Agora tô testando uns doces com sabores regionais, tipo um brigadeiro de cupuaçu. O pessoal tá adorando!”
O preço do sonho
Nada vem de graça. Cada real que entra é contado, separado, destinado. Uma parte vai para repor os ingredientes, outra para o transporte — e a maior fatia, claro, vai direto para a faculdade. Administração, veja só. Ela aprende na teoria e pratica na prática, no asfalto quente da capital.
Os clientes, claro, já viraram fãs. “Tem gente que para todo dia, já conheço até o carro”, conta, rindo. “Uns até pedem conselho sobre qual doce levar. Eu sempre sugiro o que acabou de sair, fresquinho.”
E os planos não param por aí. “Assim que me formar, quero abrir minha própria lojinha”, revela, com os olhos brilhando. “Um lugar fixo, com mesinhas, ar-condicionado... mas vou continuar vendendo no sinal, sim. É minha raiz.”
Enquanto isso, ela segue na sua rotina incansável: braços cheios de bandejas, voz ecoando entre os carros — “doce fresco, moço!” — e uma certeza de que cada brigadeiro vendido é um passo rumo ao seu diploma. E no final do dia, quando conta o dinheiro e separa as moedas, não há dúvida: suor, no sol do Piauí, tem gosto de vitória.