Em uma cena comum nos bares de Brasília, a empresária Samantha Hewsen notou um fenômeno curioso: as pessoas ainda sentiam atração umas pelas outras, mas a coragem para uma abordagem direta parecia ter sumido. Trabalhando como fotógrafa em estabelecimentos da capital, ela se deparava frequentemente com pedidos de clientes tímidos, que a usavam como intermediária para recados e investigações amorosas.
Da Observação à Inovação: O Nascimento de um Negócio
Foi dessa necessidade real, percebida no calor da noite brasiliense, que nasceu o Catálogo dos Solteiros. Samantha decidiu unir sua paixão pela fotografia impressa a uma solução para conectar pessoas. A brincadeira inicial rapidamente se transformou em um empreendimento de sucesso, que viralizou nas redes sociais e ganhou o apelido carinhoso de "Tinder analógico".
"Eu percebi que era uma necessidade real. Comecei a pensar em algum jeito que eu pudesse ajudar essas pessoas a se conectarem, mas sem deixar de usar a ferramenta que eu amo, que é a fotografia impressa", contou Samantha ao g1.
Como Funciona o Encontro Presencial
A dinâmica criada por Samantha é descomplicada e tem um charme retro. Ela escolhe um bar – divulgado previamente no Instagram @captounacapital – e começa sua missão. Abordando as mesas, pergunta quem está solteiro e disposto a participar. Se a resposta for positiva, ela fotografa o participante e imprime duas vias da foto no ato.
Uma das cópias vai para o Catálogo dos Solteiros, um álbum físico onde a pessoa anota seu nome, orientação sexual e contato (como Instagram ou WhatsApp). A outra via vira um ímã de geladeira, que o participante leva para casa como lembrança. Quem folheia o catálogo e se interessa por alguém, basta fotografar o cartãozinho e mandar uma mensagem. A taxa de participação é de R$ 20.
Samantha é enfática ao explicar a proposta aos clientes: "Não precisa marcar date. O date é hoje. Todo mundo aqui está no mesmo ambiente seguro, só falta achar o match." A ideia, segundo ela, é resgatar o básico do flerte: o hábito de olhar ao redor e demonstrar interesse pessoalmente, em contraste com a dinâmica dos aplicativos, onde todos olham para baixo, para a tela do celular.
O Sucesso e o Reconhecimento como "Cupida de Brasília"
A trajetória de Samantha até se tornar a "cupida oficial de Brasília" passou por um período difícil. Dona de uma empresa de live marketing, ela enfrentou um burnout e ficou um ano afastada. Sua volta aos poucos foi através da venda de fotos em bares, em horários que se adequavam à sua rotina de mãe solo.
Com a viralização do catálogo, seu trabalho ganhou notoriedade. "Quando eu não apareço, o povo reclama. Já virei parte da programação da noite", brinca. O serviço também pode ser contratado para eventos privados.
O engenheiro eletricista Luiz Fernando Machado, que participou pela primeira vez em um bar do Guará enquanto a reportagem do g1 acompanhava, aprovou a ideia. "Hoje é tudo muito rápido, aplicativo pra tudo. Acho que isso traz um ar da velha guarda, de conhecer a pessoa no olho", afirmou. Ele ainda se disse otimista em encontrar um match naquela noite, elogiando a diversidade do catálogo.
O sucesso é mensurado também pela fidelidade dos clientes. Samantha revela que há um grupo de três amigas que participa quase toda semana. Uma delas já está em um relacionamento mais sério com alguém que conheceu através do catálogo. Um casal oficial ainda não se formou, mas a empresária acredita que está perto de acontecer.
O Catálogo dos Solteiros se firmou, portanto, como uma alternativa criativa e humana para a paquera na era digital, provando que, às vezes, a conexão mais autêntica começa com um olho no olho e uma foto impressa na mão.