Os servidores da área da saúde da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) iniciaram uma greve de 48 horas nesta segunda-feira (15). A paralisação é um protesto contra o projeto que propõe transformar o complexo de saúde da universidade em uma autarquia. A proposta está na pauta para votação do Conselho Universitário (Consu) nesta terça-feira (16).
Mobilização e impacto nos serviços
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU), aproximadamente 30% dos servidores da saúde aderiram à greve. Para garantir a manutenção dos serviços essenciais, conforme determina a lei, os funcionários estão se revezando nas áreas hospitalares.
O sindicato informou que os setores mais afetados pela paralisação são os ambulatórios e as cirurgias eletivas. Em contrapartida, o Hospital de Clínicas (HC) emitiu uma nota afirmando que todas as atividades assistenciais, tanto eletivas quanto de urgência, estão funcionando normalmente.
No final da manhã, os trabalhadores realizaram uma passeata pelas ruas do campus da Unicamp, em Campinas (SP). O ato contou com faixas de protesto e um carro de som. A greve foi aprovada em assembleia no dia 11 de dezembro e deve se estender até esta terça-feira. Após a reunião do Consu, o comando de greve irá reavaliar os rumos da mobilização.
O que muda com a autarquização do complexo de saúde?
A proposta em discussão prevê uma mudança profunda na gestão. Atualmente, a área da saúde é parte integrante da estrutura administrativa e orçamentária da Unicamp. O plano é que ela se torne uma autarquia, denominada Hospital das Clínicas da Unicamp (HC-Unicamp).
Esta nova entidade reuniria oito órgãos, incluindo o atual Hospital de Clínicas e o Hospital da Mulher (Caism). Para fins administrativos e orçamentários, a autarquia passaria a ser vinculada à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, e não mais diretamente à universidade.
O cronograma do projeto está dividido em etapas:
- Aprovação institucional e legal no primeiro semestre de 2026.
- Estruturação administrativa e financeira entre 2026 e 2027.
- Expansão e consolidação do projeto entre 2027 e 2036.
Posições divergentes: corte orçamentário versus incertezas
A justificativa da Unicamp para a mudança é de que, com a autarquização, cerca de 17% do orçamento da universidade, equivalente a R$ 1,1 bilhão, deixaria de ser destinado à saúde. Segundo a instituição, esses recursos seriam redirecionados para a expansão acadêmica, criação de novos cursos e melhorias na infraestrutura.
O STU, no entanto, vê a proposta com extrema preocupação. O sindicato argumenta que a medida significa a perda do controle administrativo e financeiro do complexo de saúde pela Unicamp. Além disso, os trabalhadores temem que não haja garantias contra demissões em massa ou contra a queda na qualidade do atendimento de alta complexidade, que é uma marca dos hospitais universitários.
A greve dos servidores coloca em evidência o debate sobre o futuro de um dos principais complexos de saúde pública do interior paulista, na véspera de uma decisão crucial no Conselho Universitário.