O debate sobre a redução da jornada de trabalho, proposto recentemente pelo presidente Lula, enfrenta obstáculos significativos na realidade econômica brasileira. A medida, que promete dominar as discussões eleitorais, esbarra em problemas estruturais como baixa produtividade e custo trabalhista elevado.
Economistas apontam incompatibilidade com realidade nacional
Especialistas consultados pelo programa Mercado alertam que a proposta de reduzir a jornada sem perda salarial não encontra ambiente favorável no atual cenário econômico. Alex Agostini, economista da Austin Rating, foi direto ao ponto: "O Brasil não está preparado" para implementar quatro dias de trabalho com três de descanso.
Segundo Agostini, o governo precisa garantir capacitação profissional e atacar gargalos estruturais antes de pensar em reduzir a jornada. "É preciso o governo fazer a sua parte, não apenas jogar a conta nas empresas", resumiu o especialista.
Contas que não fecham
Os economistas fazem uma conta simples que costuma ser evitada em Brasília: menos horas trabalhadas com mesma remuneração exige mais produtividade - algo que o Brasil não entrega atualmente.
Rodrigo Alvarenga, da One Investimentos, reforça que se o governo quer trabalhar menos sem cair salário, precisa fazer a própria lição de casa. Ele lembra que com a atual insegurança jurídica, ambiente hostil ao investimento e um dos maiores spreads reais de juros do mundo, falar em reduzir jornada sem mexer nos entraves significa escolher entre inflação ou queda de salário.
Desafios no Congresso e na economia real
Apesar de dominar o debate eleitoral, a medida não terá vida fácil no Congresso. A fala do presidente Lula reacendeu um debate típico de campanha, mas pouco compatível com a economia brasileira real - aquela onde setores inteiros sofrem com apagão de mão de obra qualificada.
Os especialistas concordam que sem ganho real de produtividade e com os atuais problemas estruturais, a simples redução da jornada de trabalho pode trazer mais prejuízos do que benefícios para trabalhadores e empresas.