Os trabalhadores da Petrobras deram início a uma greve nacional por tempo indeterminado nesta segunda-feira (15). O movimento começou com um protesto em frente à Refinaria de Paulínia, a Replan, no interior de São Paulo. A decisão pela paralisação foi tomada após semanas de assembleias e da rejeição da segunda contraproposta apresentada pela estatal para o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT).
Pontos de impasse nas negociações
Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), que representa os sindicatos da categoria em todo o país, a proposta da empresa não avançou em três questões consideradas centrais pelos trabalhadores. O principal ponto de conflito é o fim dos Planos de Equacionamento de Déficit (PEDs) da Petros, fundo de previdência dos empregados da Petrobras. Esses planos impõem descontos adicionais nos salários de trabalhadores ativos, aposentados e pensionistas para cobrir déficits do fundo.
Além disso, a categoria reivindica melhorias no plano de cargos e salários e garantias contra mecanismos de ajuste fiscal. A FUP também defende um modelo de negócios que fortaleça a estatal, com a contenção de parcerias e terceirizações que, na avaliação dos sindicatos, precarizam o trabalho e abrem caminho para privatizações.
“A categoria quer respeito, dignidade e uma justa distribuição da riqueza gerada”, afirmou a federação em nota. “A greve aprovada nas assembleias é por um ACT forte, que recupere direitos perdidos, garanta condições decentes de trabalho e resolva de forma definitiva os equacionamentos da Petros.”
Posicionamento da Petrobras e críticas da FUP
Procurada, a Petrobras emitiu uma nota afirmando que a greve não terá impacto na produção de petróleo e derivados. A empresa disse ter adotado medidas de contingência para assegurar a continuidade das operações e garantiu o abastecimento ao mercado. A estatal também reforçou que respeita o direito de manifestação e mantém um canal permanente de diálogo com as entidades sindicais.
A companhia informou que está em processo de negociação do ACT desde o final de agosto e que, na última terça-feira (9), apresentou sua última proposta, que contemplaria avanços aos principais pleitos sindicais. A Petrobras afirmou estar empenhada em concluir a negociação na mesa de discussões.
Entretanto, a FUP critica a atual gestão da empresa, sob o comando de Magda Chambriard, alegando que ela dificulta o avanço das negociações. A entidade sindical acusa a Petrobras de adotar decisões unilaterais, como transferências forçadas e demissões sem justificativa, o que teria comprometido o diálogo.
“Desde o início da negociação coletiva, a FUP e seus sindicatos deixaram claro à gestão da Petrobras que o fim dos equacionamentos é um ponto central para a assinatura do ACT. É inadmissível que, após quase três anos de negociações, a empresa não avance na apresentação de uma proposta que coloque um ponto final nos PEDs”, declarou a federação.
Distribuição de dividendos versus ganhos salariais
Outro ponto de crítica levantado pela FUP é o volume de recursos destinados aos acionistas em comparação com a proposta salarial oferecida aos trabalhadores. De acordo com o sindicato, nos primeiros nove meses do ano, a Petrobras pagou R$ 37,3 bilhões em dividendos.
Em contrapartida, a proposta da empresa para o Acordo Coletivo de Trabalho ofereceria um ganho real de apenas 0,5%, além de promover, na avaliação dos trabalhadores, retrocessos e criar diferenças entre empregados da holding e das subsidiárias.
A greve ocorre em um momento de tensão nas relações entre a estatal e sua base de trabalhadores, com a paralisação podendo se estender por tempo indeterminado até que um acordo satisfatório para ambas as partes seja alcançado.