Caged fraco pressiona Selic, mas BC mantém juros em 15% ao ano
Caged fraco pressiona Selic, mas BC mantém juros

Mercado de trabalho mostra fraqueza e reacende debate sobre juros

O mercado de trabalho brasileiro apresentou um desempenho preocupante em outubro, com a criação de apenas 85.147 vagas com carteira assinada, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Este é o pior resultado para o mês de outubro desde o início da série histórica em 2020, acendendo um sinal de alerta sobre a saúde da economia.

Governo pressiona por redução da Selic

Diante dos números desanimadores, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, não perdeu tempo e foi direto ao ponto: declarou que os dados comprovam que a taxa Selic "já passou da hora" de cair. A declaração ocorreu nesta quinta-feira, 28 de novembro de 2025, e representa mais um capítulo na tensão entre o governo federal e o Banco Central.

Enquanto isso, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, não conseguiu sustentar o fôlego do recorde histórico alcançado na véspera. O índice fechou a sessão com leve queda de 0,12%, ficando em 158,3 mil pontos. Com as bolsas americanas fechadas devido ao feriado de Ação de Graças, o cenário doméstico ganhou destaque.

Banco Central mantém posição firme

Mas se alguém esperava que a fragilidade do mercado de trabalho comovesse o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, teve uma surpresa. Em evento realizado na tarde de quinta-feira em São Paulo, o chefe da autoridade monetária foi categórico: "Não tem nenhum dado específico que tenha mudado a nossa direção".

Galípolo reforçou que o país até caminha em direção ao crescimento, "mas não tão rápido quanto eu gostaria", e deixou claro que crescimento sem desenvolvimento não é suficiente. Na prática, isso significa que a Selic permanece em 15% ao ano, a política monetária "está no caminho certo" e o Comitê de Política Monetária (Copom) não pretende acelerar o passo para acompanhar a ansiedade do governo.

Especialista alerta para problemas estruturais

No programa Mercado, o economista Alex Agostini já havia alertado para os desafios do mercado de trabalho brasileiro. Segundo ele, quando se discutem mudanças como a redução da jornada de trabalho, é preciso considerar que "o Brasil não tem ganho real de produtividade", convive com "apagões de mão de obra" e expande programas sociais sem garantir capacitação profissional adequada.

Esta análise sugere que cobrar apenas o Banco Central não resolve os problemas estruturais da economia - e o comportamento do emprego mês após mês parece confirmar essa tese.

O mercado financeiro abre esta sexta-feira tentando decifrar quem falará mais alto neste embate: na esfera política, o governo Lula ou o Congresso em pé de guerra; na economia, o emprego que esfria, o ministro que pressiona ou o Banco Central que, por enquanto, não se mexe.