Mudanças na CNH aprovadas pelo Contran geram temor de demissões em massa no Sul de Minas
Alterações na CNH preocupam autoescolas no Sul de Minas

Uma resolução aprovada pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) está causando apreensão entre autoescolas e instrutores da região Sul de Minas Gerais. As mudanças, que aguardam publicação no Diário Oficial da União, prometem revolucionar o processo de obtenção da Carteira Nacional de Habilitação, com o objetivo declarado de reduzir custos. No entanto, o setor de formação de condutores local vê a medida com preocupação, temendo um cenário de demissões em massa e incertezas financeiras.

O que muda no processo para tirar a CNH?

Aprovada por unanimidade, a nova regra do Contran traz alterações profundas nas etapas tradicionais de formação. A principal delas é a flexibilização da obrigatoriedade de aulas em autoescolas. Além disso, a resolução cria a figura do instrutor autônomo, um profissional que poderá atuar independentemente de uma autoescola.

Segundo o Ministério dos Transportes, a motivação central é econômica: reduzir o custo do processo de habilitação, visto como uma barreira para muitos brasileiros. O governo federal estima que, com as novas regras, o valor total para tirar a CNH possa cair drasticamente, até 80%. Em Minas Gerais, onde o preço médio atual é de R$ 3.968,15 – o quarto mais alto do país –, a potencial economia seria significativa.

Preocupação com demissões e custos fixos no setor

Do outro lado, a perspectiva é de apreensão. O Sindicato dos Trabalhadores em Centros de Formação de Condutores de Pouso Alegre e região (STCFCPAR), que representa 156 municípios, alerta para o risco de uma crise no segmento.

"O grande medo é do empresário ter que fazer uma dispensa em massa e não ter custos para arcar com as verbas rescisórias", afirma Leandro Melo, presidente do STCFCPAR. Ele destaca que o risco financeiro relacionado a essas possíveis demissões tem tirado o sono dos empresários.

A estrutura necessária para manter uma autoescola é outro ponto sensível. Os custos fixos são elevados, incluindo:

  • Veículos específicos e adaptados
  • Espaço físico mínimo exigido por lei
  • Salários de diretores, instrutores e equipe administrativa

Uma autoescola de porte médio na região Sul de Minas pode ter despesas mensais entre R$ 35 mil e R$ 40 mil, tornando o cenário de queda repentina na demanda especialmente preocupante.

Dúvidas sobre a figura do instrutor autônomo

A criação do instrutor autônomo, embora vista como uma forma de desburocratização, também gera muitas interrogações práticas. Pelas novas regras, para atuar dessa forma, o profissional deverá cumprir uma série de requisitos:

  • Ter no mínimo 21 anos de idade
  • Possuir CNH há pelo menos dois anos
  • Ter ensino médio completo
  • Estar cadastrado no Detran
  • Não ter cometido infração gravíssima no ano anterior

Além disso, surge o desafio logístico e financeiro: conseguir um veículo próprio e mantê-lo com as adaptações exigidas, assumindo despesas que hoje são responsabilidade das autoescolas.

"Será que o instrutor hoje tem um veículo próprio? Como que vai ser? Ele tem condições de comprar um veículo, adaptar isso?", questiona a instrutora Ana Paula Silva. Ela também levanta dúvidas sobre a formalização da atividade: "Vai ser PJ? Vou ter que abrir um MEI para fazer isso?".

Diálogo e implementação das novas regras

Grupos que administram autoescolas em cidades como Pouso Alegre, Ouro Fino e Jacutinga afirmam que, apesar de serem favoráveis a melhorias no processo, não foram convidados a participar das discussões que levaram à resolução.

Eles reforçam que mudanças estruturais dessa magnitude precisam ser debatidas de forma ampla, envolvendo todos os atores do setor. O objetivo, segundo eles, é evitar prejuízos não apenas para trabalhadores e empresas, mas também para os próprios candidatos à CNH, que podem ser afetados por uma transição desordenada.

Enquanto a publicação oficial da resolução no Diário Oficial da União não ocorre, o setor de formação de condutores do Sul de Minas aguarda, na expectativa de que o diálogo com o poder público avance antes da implementação definitiva das alterações. O futuro de centenas de empregos e a sustentabilidade de um segmento econômico importante para a região estão em jogo.