
Parece que o mundo resolveu colocar a política no centro do palco — e os mercados financeiros estão assistindo a tudo, com a respiração suspensa. Não é exagero. De repente, os tradicionais indicadores econômicos perderam um pouco o protagonismo para um espetáculo de incertezas que se desenrola em capitais ao redor do globo.
E o que está em jogo? Basicamente, o rumo da economia mundial e, claro, o seu dinheiro.
Um Terremoto Chamado Eleição
Do outro lado do Atlântico, a Europa levou um susto. A convocação de eleições legislativas surpresa na França pelo presidente Emmanuel Macron — após uma derrota fragorosa para a extrema-direita nas europeias — fez o mercado de títulos do país tremer na base. Os spreads entre os títulos franceses e os alemães, um termômetro clássico do risco, dispararam. Traduzindo: os investidores ficaram com o pé atrás e exigiram um prêmio maior para financiar a dívida francesa.
Mas a França não está sozinha nessa dança das cadeiras. Tudo isso ecoa um mal-estar maior, um nervosismo generalizado que já vinha se arrastando. A perspectiva de um governo mais gastador e menos ortodoxo em uma das maiores economias da zona do euro é, convenhamos, motivo suficiente para deixar qualquer analista com uma certa apreensão.
E Do Outro Lado do Oceano?
Enquanto isso, nos Estados Unidos, o espetáculo é duplo. De um lado, um debate presidencial que, convenhamos, mais pareceu uma troca de farpas pouco presidencial. O desempenho titubeante de Joe Biden contra a assertividade (para alguns, agressividade) de Donald Trump não passou despercebido. Os mercados começaram a precificar seriamente a chance de uma vitória republicana — e tudo o que isso pode significar.
E significa muito. A expectativa de um governo Trump 2.0 vem acompanhada de promessas de extensão de cortes de impostos, o que, em tese, poderia reacender pressões inflacionárias. O resultado? O mercado revisou para baixo suas expectativas de quantos cortes de juros o Fed faria este ano. Agora, a aposta mais segura é talvez apenas um, lá para setembro. Um banho de água fria para quem esperava um alívio maior.
O Tabuleiro Geopolítico Não Ajuda
Como se não bastasse o circo eleitoral, as tensões no Oriente Médio decidiram dar as caras. O conflito entre Israel e Hezbollah escalou, e aí, meu amigo, qualquer sinal de instabilidade naquela região é como jogar gasolina na fogueira da ansiedade do mercado. O petróleo, claro, fica logo na mira, com receios sobre o fluxo de suprimentos. Mais um ingrediente para a panela de pressão.
E o Brasil Nisso Tudo?
Ah, o Brasil. Não pense que estamos imunes a essa baderna toda. Longe disso. Por aqui, a agenda política doméstica também entrou no radar dos investidores de uma forma que não se via há tempos. A aprovação da reforma tributária no Senado foi, sem dúvida, uma excelente notícia — um alívio e tanto, um sinal de que a máquina legislativa pode, de fato, avançar em agendas complexas.
Mas… sempre tem um mas. O mesmo Congresso que aprovou a reforma também decidiu mexer em um vespeiro: a proposta de desvincular gastos. A ideia de acabar com a obrigatoriedade de destinação de recursos para áreas específicas, como saúde e educação, soou um alarme para muitos. É um tema sensível, espinhoso, que mexe com um calo antigo da gestão fiscal brasileira. O mercado ficou de olho, numa mistura de esperança com um pé atrás monumental.
E não para por aí. A indefinição sobre os rumos do novo arcabouço fiscal e a lentidão na agenda de reformas — olá, reforma administrativa — contribuem para um cenário de wait and see. Os investidores estão ali, na beirada da cadeira, observando cada movimento em Brasília. A sensação é que o país está num momento decisivo, um daqueles pontos de virada que podem definir os próximos anos.
E Agora, José?
Para o investidor comum, que talvez só queira saber se deve comprar dólar ou deixar a grana rendendo no CDI, a mensagem é clara: preste atenção na política. Ela saiu dos editoriais e foi parar no centro do pregão. A volatilidade veio para ficar, pelo menos enquanto esses dramas eleitorais e geopolíticos não se resolverem.
É um daqueles momentos em que acompanhar o noticiário político deixa de ser hobby e vira quase uma necessidade de sobrevivência financeira. Que tempos, hein?