O Rock in Rio, tradicionalmente conhecido como um espetáculo de proporções tropicais e símbolo do capitalismo cultural brasileiro, está passando por uma transformação radical. A empresa por trás do evento, a Rock World, descobriu que seu verdadeiro valor não está apenas nos palcos, mas nos dados que coleta de milhões de fãs.
Do espetáculo ao ecossistema de dados
Sob o comando do CEO Luis Justo, a Rock World percebeu que não opera simplesmente festivais, mas administra um ativo cada vez mais valioso: informações. A expansão recente do grupo, que incluiu edições do Rock in Rio, The Town e Lollapalooza, levou mais de 14 milhões de pessoas a cruzarem fisicamente os portões dos eventos da empresa.
Em torno desses números, cresce uma economia própria capaz de gerar mais de 380 mil empregos, tanto formais quanto temporários. Mas o que realmente chama a atenção de marcas, investidores e reguladores não é o som dos decibéis, e sim o que acontece nos servidores: o big data do entretenimento.
Conteúdo o ano todo e parceria com TikTok
A Rock World internalizou uma lição que muitos conglomerados culturais ainda buscam aprender: em uma economia digital, a ausência é uma estratégia ruim. Se o espetáculo se limita a alguns dias, o valor capturado é limitado. Se se estende ao longo dos 365 dias do ano, ele se multiplica.
Por isso, a empresa começou a operar como um estúdio de mídia de médio porte, produzindo:
- Minisséries e webséries
- Documentários e realities curtos
- Podcasts e campanhas sociais
Essa estratégia se intensificou através de parcerias com plataformas como o TikTok, onde conteúdos vinculados à marca ultrapassaram 250 milhões de impressões. Esse indicador reposiciona a empresa para além do turismo de eventos, transformando o festival em franquia e a franquia em narrativa contínua.
Modelo que se aproxima das big techs
Enquanto a maioria das empresas opera festivais como produtos anuais, a Rock World captura o fluxo completo: antes, durante e depois dos eventos. Ao integrar seus dados com os de marcas parceiras, a empresa cria um modelo que se assemelha mais a uma big tech cultural do que a um produtor de shows tradicionais.
"Esses dados trouxeram para o grupo a possibilidade de ser uma plataforma de inovação", afirmou Luis Justo durante o Zoox Data Revolution, que aconteceu no Hotel Unique, em São Paulo, na terça-feira, 18 de novembro de 2025.
A infraestrutura de dados permite intervenções quase cirúrgicas, desde melhorias no fluxo de pessoas até a personalização de experiências individuais. As análises ajudam marcas a decidir desde a cor de uma campanha até o tipo de artista mais eficaz para uma ativação específica.
Além do aspecto comercial, a Rock World já utiliza essa inteligência para orientar campanhas ambientais, incentivar práticas de reciclagem e mapear com precisão inédita quais causas realmente engajam o público jovem. Em um cenário marcado por greenwashing e slogans vazios, essa interseção entre emoção, cultura pop e ciência de dados se torna uma vantagem competitiva rara e difícil de replicar.