O cenário global do luxo ganhou um novo capítulo histórico nesta terça-feira, 2 de julho. O Grupo Prada, um dos maiores nomes da moda de alto padrão no mundo, finalizou oficialmente a aquisição total da icônica grife italiana Versace. O acordo, que havia sido anunciado em abril deste ano, foi concretizado pela quantia de 1,25 bilhão de euros, equivalente a cerca de 1,4 bilhão de dólares ou 7,5 bilhões de reais.
Um gigante italiano para enfrentar franceses e americanos
Esta operação de grande porte representa um fortalecimento significativo da Itália no competitivo mercado de bens de luxo, atualmente dominado por conglomerados norte-americanos e, principalmente, pelo gigante francês LVMH, dono de marcas como Louis Vuitton e Dior. Apesar de o país ser responsável por estimados 50% a 55% da produção mundial de artigos de luxo pessoais, segundo a consultoria Bain, faltava à Itália um grupo com escala internacional comparável aos de outras nações.
Com a incorporação da Versace, o Grupo Prada, que já possui um valor de mercado de aproximadamente 80,2 bilhões de reais (US$ 15 bilhões), consolida sua posição como o maior grupo italiano de moda de luxo em receita. No entanto, o caminho para rivalizar com os líderes absolutos do setor ainda é longo. Para se ter uma ideia da disparidade, o grupo LVMH tem um valor de mercado estimado em cerca de 1,7 trilhão de reais (US$ 316 bilhões).
O que a venda significa para a Capri Holdings
A Versace era controlada pela holding americana Capri Holdings, que também é dona das marcas Michael Kors e Jimmy Choo. A empresa adquiriu a grife italiana em 2018 por 2 bilhões de dólares, valor superior ao recebido na venda para a Prada.
Em comunicado oficial, o presidente do conselho e diretor-executivo da Capri Holdings, John D. Idol, explicou a estratégia por trás da operação. Segundo ele, o montante obtido será utilizado para quitar a maior parte da dívida da companhia, fortalecendo seu balanço patrimonial. "Como resultado, essa transação proporcionará maior flexibilidade financeira para investir em nosso crescimento, e também para retornar capital aos acionistas no futuro", afirmou o executivo. A decisão ocorre em um momento em que a Versace apresentou um prejuízo operacional de 288,7 milhões de reais (US$ 54 milhões) no primeiro trimestre deste ano.
Desafios e a era pós-Donatella Versace
A Versace foi fundada em 1978 pelo estilista Gianni Versace e tornou-se mundialmente famosa sob a direção criativa de sua irmã, Donatella Versace. Donatella deixou o cargo em março de 2025, após três décadas à frente da criação da marca, marcando o fim de uma era.
Analistas do setor apontam que a grife enfrenta um período de reposicionamento desafiador. Nos últimos anos, ganhou força entre os consumidores mais ricos a tendência do "luxo discreto" (quiet luxury), que valoriza peças mais sóbrias e atemporais. As criações da Versace, por outro lado, são tradicionalmente marcadas por estampas ousadas, cores vibrantes e um apelo glamouroso e chamativo, o que exige uma adaptação estratégica no novo contexto do mercado.
A conclusão desta aquisição pela Prada não é apenas uma transação financeira, mas um realinhamento geopolítico no universo do luxo. A Itália, berço de tantas marcas icônicas, agora conta com um campeão nacional mais robusto para competir no palco global, enquanto a Versace inicia um novo capítulo sob a égide de uma outra potência da moda italiana.
