Focus reduz projeção do IPCA para 4,43% e mantém inflação abaixo do teto
Mercado reduz projeção de inflação e vê Selic a 12%

A mais recente edição da Pesquisa Focus, levantada pelo Banco Central até 28 de novembro e divulgada nesta segunda-feira (01/12/2025), trouxe uma nova redução nas expectativas de inflação para o Brasil. O mercado financeiro ajustou sua previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2025, que caiu de 4,45% para 4,43%. Considerando apenas as respostas dos últimos cinco dias úteis, a mediana do indicador ficou em 4,42%.

Inflação deve ficar dentro da meta oficial

Com essa projeção, a inflação prevista para 2025 se mantém abaixo do teto da meta, estabelecida em 4,50% (3,00% de centro mais uma tolerância de 1,50 ponto percentual). O ajuste ocorre porque os agentes econômicos esperam uma alta de preços mais moderada nos últimos meses do ano: a estimativa para novembro recuou de 0,21% para 0,20%, e a de dezembro, de 0,47% para 0,46%. Vale lembrar que, em 2024, esses mesmos meses registraram variações de 0,39% e 0,52%, respectivamente.

O otimismo se estende para o próximo ano. Para 2026, o mercado também revisou para baixo suas projeções, que caíram de 4,18% para 4,12% na mediana das respostas dos últimos cinco dias. Em relação à taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 15% ao ano, a previsão do mercado é de que ela chegue a 12% em dezembro de 2025.

Cenário de crescimento e os desafios dos juros altos

Quanto ao crescimento econômico, a pesquisa manteve a expectativa de variação do Produto Interno Bruto (PIB) em 2,16% para 2025 (2,14% nas respostas mais recentes). A atenção agora se volta para a divulgação do IBGE, na quinta-feira (04/12), dos dados do terceiro trimestre. As expectativas apontam para uma desaceleração, com previsões de um crescimento entre 0,2% e 0,3% no período.

Instituições como Itaú e a consultoria 4Intelligence projetam uma alta de 0,25% no trimestre e de 1,7% em 12 meses. O Bradesco mostra-se um pouco mais otimista, prevendo 0,3% no trimestre e 2,0% no acumulado do ano. No entanto, os economistas alertam que a elevação das taxas de juros está travando o desempenho da economia. Setores menos dependentes de crédito, como mineração, petróleo e exportações, têm sustentado a atividade, mas os juros altos projetam uma desaceleração mais pronunciada para 2026, com a Focus prevendo um crescimento de apenas 1,78%.

Mudança no financiamento das empresas e o canal do crédito

Em um relatório, os economistas Marcelo Gazzano e Rafael Murrer, do Departamento de Pesquisas Macroeconômicas do Bradesco, analisam o impacto da política monetária. Eles consideram que "os investimentos tendem a ser mais impactados do que o consumo doméstico durante períodos de aperto monetário, sendo o canal de crédito um dos mecanismos mais significativos para a transmissão da política monetária".

Os dados mostram uma transformação significativa na forma como as empresas brasileiras se financiam. De acordo com compilações da Fipe, a participação dos mercados de capitais nas responsabilidades financeiras das corporações não financeiras saltou de cerca de 10% entre 2014 e 2015 para mais de 25% atualmente. Em contrapartida, o crédito bancário tradicional caiu de 27% para 23% no mesmo período, e o financiamento do BNDES teve queda mais acentuada, de aproximadamente 20% para 6,5%.

Dentro do mercado de capitais, destaca-se o crescimento das debêntures incentivadas, títulos com benefícios fiscais para setores estratégicos. O estoque desses instrumentos explodiu de R$ 75 bilhões em 2018 para os atuais R$ 414 bilhões, representando cerca de 31% do total de tivos do mercado. O saldo total em debêntures (incentivadas e não incentivadas) atingiu R$ 1,3 trilhão, um crescimento de quase 60% desde 2018.

Apesar do avanço, Gazzano e Murrer ponderam que, em comparação com o estoque total de crédito corporativo (R$ 2,6 trilhões em setembro), o mercado de debêntures incentivadas ainda representa pouco mais de 10%. Por isso, "entendemos que seu impacto no funcionamento da política monetária é atualmente limitado", afirmam. No entanto, ressaltam que oscilações bruscas da Selic continuam a afetar esse mercado.

O cenário descrito pela Focus e pelas análises setoriais aponta para uma economia em transição, com inflação sob controle, mas com o crescimento futuro condicionado ao ciclo de juros e à capacidade das empresas de se adaptarem às novas fontes de financiamento.