O mercado financeiro começou a digerir a possibilidade de uma mudança no comando do Ministério da Fazenda, com a eventual saída de Fernando Haddad. A especulação, que ganhou força nos últimos dias, reforçou a cautela dos investidores em relação ao cenário fiscal para os anos de 2026 e, principalmente, 2027.
Troca no comando não seria disruptiva, mas contexto preocupa
Para especialistas ouvidos em análises de mercado, a saída do ministro em si não representaria uma mudança brusca, desde que haja continuidade na equipe. Ricardo Rocha, coordenador de finanças do Insper, e Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, avaliaram o cenário. Eles concordam que a troca não faria "a menor diferença" caso o governo mantivesse no cargo o número dois da pasta, Dario Durigan.
"É a manutenção da mesma política", lembra Ricardo Rocha. No entanto, ele faz um alerta importante: "O próximo governo enfrentará um quadro fiscal mais difícil do que o de ciclos anteriores e que 2027 não será um replay de 2014", ano em que uma tentativa de ajuste fiscal não foi bem-sucedida.
Danilo Igliori segue a mesma linha e avalia que o risco está menos no nome do ministro e mais no contexto político e econômico. "Há sempre pressão por mais despesas em ano pré-eleitoral, mas o tema fiscal hoje está no centro do debate público, o que limita movimentos mais agressivos", observa o economista.
Expectativa de continuidade e pontos de atenção
A leitura predominante no mercado é de que, se o sucessor for de fato Dario Durigan, a expectativa é de continuidade na condução da política econômica, sem uma ruptura imediata. O cenário de relativa estabilidade, contudo, não elimina os focos de preocupação.
Atualmente, o maior conforto para os agentes econômicos ainda vem do Banco Central, visto como uma instituição técnica e independente, com expectativas de inflação relativamente ancoradas. Este pilar ajuda a manter uma certa estabilidade.
Por outro lado, a política fiscal permanece como o principal ponto de atenção e é considerada o maior teste de credibilidade do governo daqui para frente. A capacidade de manter o controle das contas públicas em um ambiente de pressões eleitorais será crucial.
O desafio fiscal no horizonte
As análises destacam que o grande desafio está no médio prazo. O ano de 2027, em particular, é visto com muita atenção, pois não repetirá as condições relativamente mais favoráveis de ciclos anteriores. A combinação de um quadro fiscal mais apertado com o ciclo eleitoral exigirá disciplina e credibilidade por parte do Executivo, independentemente de quem esteja à frente da Fazenda.
Em resumo, enquanto o mercado vê a possível troca no ministério com relativa tranquilidade caso haça continuidade interna, o sinal de alerta permanece aceso para os desdobramentos da política fiscal nos próximos anos, que serão decisivos para a confiança dos investidores e para a saúde econômica do país.