Ata do Copom mantém tom duro e adia expectativa de corte de juros para março
Copom mantém tom duro e adia corte de juros

A divulgação da Ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, nesta terça-feira, 16 de dezembro de 2025, deixou claro que a autoridade monetária brasileira mantém uma postura firme e sem espaço para complacência. O documento reforçou o tom duro do BC, elevando as incertezas do mercado financeiro sobre o momento exato em que o ciclo de cortes da taxa básica de juros, a Selic, terá início.

Tom duro do BC e a incerteza sobre o início dos cortes

O comunicado do Copom destacou que a política monetária precisa permanecer restritiva por um período prolongado. A autoridade não descartou a possibilidade de novos aumentos da Selic, caso as condições macroeconômicas assim exijam. Essa linguagem vigilante afastou a possibilidade de um corte já na primeira reunião de 2026, em janeiro, e colocou o foco do mercado em março ou em um horizonte ainda mais distante.

Segundo Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, a ata indica a necessidade de manter a Selic nos níveis atuais por mais tempo para consolidar o processo de desinflação. "O Comitê não parece inclinado a iniciar o ciclo de corte de juros em janeiro, apesar da melhora recente no cenário inflacionário", afirmou.

Divergência entre analistas sobre o calendário da Selic

A definição do início do ciclo de flexibilização monetária ficou envolta em dúvidas. Entre os especialistas, há uma divisão clara de opiniões:

  • Março como data provável: Analistas da XP Investimentos e da gestora Hike Capital projetam o início dos cortes para março de 2026. Ângelo Belitardo, da Hike Capital, fundamenta essa tese no fato de o BC enfatizar a necessidade de manter juros altos por um período prolongado e a vigilância contínua dos dados. A XP prevê que a Selic termine 2026 em 12,00%, após seis cortes de 0,50 ponto percentual.
  • Sem data definida: O Itaú BBA, assim como os economistas Ricardo Rocha (Insper) e Danilo Igliori (Nomad), preferem não cravar uma data. Eles veem a "barra alta" para um corte em janeiro e consideram março cada vez mais incerto. Para eles, o Copom opera em um cenário de incertezas, tanto externas (ligadas aos EUA) quanto internas, como a inflação de serviços e os estímulos fiscais.

Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos, resumiu que a ata consolida uma posição hawkish (dura), com prudência elevada e foco absoluto na ancoragem das expectativas inflacionárias.

Riscos que pressionam e adiam a queda dos juros

Os economistas apontam uma série de fatores que justificam a cautela excessiva do Banco Central e contribuem para postergar o início do ciclo de cortes:

Estímulos fiscais: Medidas como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, mencionada na própria ata, tendem a aquecer o consumo e dificultar o controle da inflação.

Inflação de serviços: A persistência da alta de preços em serviços, segmento mais sensível à renda, preocupa o Copom mesmo com a moderação da inflação cheia.

Mercado de trabalho resiliente: A resistência do emprego e da renda exige mais tempo para que o BC avalie se a desaceleração econômica é cíclica ou estrutural.

Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú BBA, observa que o Copom descreve o cenário como aquele que ainda "prescreve" uma política contracionista, o que deixa em aberto a possibilidade de um corte no curto prazo, mas sem pressa para executá-lo.

Em resumo, a aposta dos analistas para o início do corte de juros segue incerta. A sinalização do Copom é clara: a Selic deve permanecer elevada por mais tempo do que o mercado gostaria. A definição só deve ocorrer quando houver evidências consistentes de que a inflação converge para o centro da meta, estabelecida em 3% ao ano. Até lá, o mês de março surge como uma possibilidade, mas não uma certeza, em um cenário onde a prudência do BC se sobrepõe a qualquer ansiedade por juros mais baixos.