A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro no último fim de semana gerou intensa movimentação no cenário político brasileiro, mas passou praticamente despercebida nas mesas de operação do mercado financeiro. É o que revelam analistas entrevistados pelo programa Mercado, que tratam o fato como um evento já precificado pelos investidores.
Bolsonaro: "página virada" para o mercado
Segundo Alisson Correia, da Dom Investimentos, a prisão do ex-presidente não causou qualquer impacto relevante sobre preços de ações, câmbio ou juros. "Bolsonaro já é carta fora do baralho no mercado financeiro há muito tempo. Não faz mais preço nos ativos", afirmou o analista durante o programa apresentado por Veruska Donato.
Os gestores explicam que a aritmética é simples: Bolsonaro não integra mais o cenário eleitoral de 2026 e, portanto, não interfere nas projeções de médio prazo. Nem sua condenação, nem a fase da prisão domiciliar, nem a transferência para a Polícia Federal tiveram poder de movimentar os mercados.
Instituições importam mais que personagens
Um fator crucial apontado pelos analistas é que investidores estrangeiros - que respondem por uma parcela decisiva do fluxo - tendem a avaliar instituições, não personagens. O funcionamento regular do STF e da Polícia Federal, do ponto de vista deles, já estava no radar e segue seu curso normal.
Marcelo Siqueira, da A7 Capital, ressalta que isso vale especificamente para o mercado financeiro. "Claro que existe o contexto de imagem, holofotes sobre o Brasil... Mas olhando preço, não é relevante", explicou o especialista durante a entrevista realizada em 24 de novembro de 2025.
O verdadeiro risco vem de Washington
Se Bolsonaro não move mais o mercado, uma figura em Washington pode mover: Donald Trump. Siqueira alerta que o verdadeiro efeito econômico dependerá da reação do ex-presidente americano - e de como ela se traduzirá em política comercial.
"A gente tem pouco até agora. Uma fala rápida de Trump, posts nas redes, mas nada oficial. O impacto real será quando vierem declarações formais", afirmou o analista.
A apreensão é compreensível: Brasil e Estados Unidos vinham avançando nas negociações tarifárias. A possibilidade de Trump pressionar para barrar acordos preocupa, ainda que, por ora, os analistas considerem improvável um rompimento imediato.
Ano eleitoral pode ampliar volatilidade
Para Siqueira, o risco está na combinação entre dois fatores: a potencial escalada retórica dos EUA - especialmente se o tema virar combustível eleitoral para Trump, e o cenário do ano eleitoral no Brasil - que já tornaria o ambiente mais volátil mesmo sem a prisão do ex-presidente.
"Ano que vem é ano de eleições. Isso inevitavelmente entra no xadrez político e pode mexer com humor de mercado", projetou o analista.
Por enquanto, o recado das mesas de operação é claro: a prisão de Bolsonaro é ruído. O que realmente importa, daqui para frente, é o tamanho do barulho que virá de Washington e como as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos se desenvolverão no contexto político atual.