Mudança de comportamento surpreende mercados globais
Depois de quase 11 meses marcados por conflitos verbais, ameaças tarifárias e choques diplomáticos, o presidente americano Donald Trump vem surpreendendo investidores ao adotar, nos últimos dias, um tom moderado que contrasta com sua postura habitual. A mudança de comportamento ocorre em um momento crucial para a economia global.
Para Rodrigo Moliterno, sócio e head de renda variável da Veedha Investimentos, esse novo comportamento - apelidado por ele de "Trump paz e amor" - tem sido decisivo para reduzir a volatilidade nos mercados internacionais. O economista destaca que a trégua nas tensões geopolíticas vem trazendo alívio significativo para os investidores.
Pragmatismo político por trás da mudança
Segundo a análise de Moliterno, a mudança de postura de Trump não é aleatória, mas reflete um cálculo político bem fundamentado. A popularidade do presidente americano caiu para cerca de 38%, pressionando por uma revisão na estratégia, especialmente às vésperas das festas de fim de ano, quando o custo de vida pesa mais no bolso do eleitor.
O economista explica que o pragmatismo também passa por questões econômicas concretas. A inflação americana segue pressionada, e parte dos insumos consumidos pelos EUA - como café e carne - depende fortemente de exportadores como o Brasil. Esta realidade econômica impõe limites às políticas mais agressivas.
Impacto positivo para o Brasil e mercados
O novo cenário traz benefícios diretos para o Brasil. Em um evento da Amchan (Câmara de Comércio Americana), em São Paulo, na terça-feira, 26 de novembro de 2025, o presidente da república em exercício, Geraldo Alckmin, mostrou confiança aos participantes sobre as tarifas americanas.
Alckmin expressou otimismo sobre a redução das tarifas e até mesmo na exclusão de mais produtos da lista de restrições. "É diálogo e negociação", resumiu o presidente em exercício durante o evento.
Rodrigo Moliterno sintetiza o sentimento do mercado: "Quando Trump deixa de ir para o embate, os ativos respiram". No entanto, o economista faz uma ressalva importante: ainda não se trata de um reposicionamento estrutural, mas sim de um ajuste tático motivado pelo desgaste político.
Até mesmo episódios potencialmente explosivos, como o vazamento de áudios revelados pela agência de notícias Bloomberg envolvendo o negociador americano Steve Witkoff e interlocutores russos, receberam de Trump uma resposta inusitadamente tranquila, indicando que a estratégia de não criar novos focos de crise segue firme.
A grande dúvida que permanece para o mercado e para aliados internacionais é sobre a durabilidade dessa postura mais branda. Se o "Trump paz e amor" resistirá à agenda eleitoral, às pressões internas e às próximas rodadas de negociação comercial com a China, ninguém arrisca prever. Mas, por enquanto, o cenário global parece ter encontrado um raro momento de calma - e os investidores agradecem.