O governo do México está prestes a implementar um aumento generalizado de tarifas de importação que pode atingir diretamente as exportações brasileiras. De acordo com um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a medida, que está em tramitação no Congresso mexicano, tem o potencial de impactar 14,7% de tudo que o Brasil vende ao país, um valor que soma aproximadamente US$ 1,7 bilhão.
Quais produtos e setores serão mais afetados?
A proposta mexicana prevê a elevação das tarifas para 983 produtos de 19 setores distintos. Desse total, 232 itens são de origem brasileira. A análise da CNI revela um dado crucial: 67,6% do valor das exportações brasileiras que podem ser taxadas corresponde a bens intermediários. Isso significa que são insumos essenciais para a própria indústria mexicana, como componentes para os setores de veículos, produtos químicos, metalurgia, borracha e plásticos.
Uma elevação tarifária sobre esses itens tende a criar um efeito cascata. Por um lado, encarece a produção no México. Por outro, e mais diretamente para o Brasil, enfraquece a competitividade das exportações nacionais, já que os produtos brasileiros ficarão mais caros no mercado mexicano.
Brasil entre os mais impactados, mas não está sozinho
As projeções indicam que o Brasil será o quinto país mais afetado pelo novo pacote tarifário. A lista é encabeçada pela China, com um impacto estimado em US$ 34,2 bilhões, seguida por Coreia do Sul (US$ 5,8 bilhões), Índia (US$ 3,1 bilhões) e Tailândia (US$ 1,8 bilhão). Após o Brasil, aparecem Indonésia e Taiwan.
O que une esses países é a ausência de um acordo de livre comércio abrangente com o México. Na prática, nações que possuem tratados desse tipo, como Estados Unidos, União Europeia, Japão, Canadá e Vietnã, estarão imunes ao aumento das tarifas, o que pode deslocar as compras mexicanas para esses fornecedores privilegiados.
Contexto político e busca por soluções
A iniciativa faz parte da nova política industrial da presidente Claudia Sheinbaum, inserida no Programa de Protección para las Industrias Estratégicas. O plano prevê um salto na tarifa média de importação, que passaria de 16,1% para 33,8%, podendo chegar a até 50% para alguns produtos específicos. O governo mexicano alega que a medida está dentro dos limites permitidos pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Para o Brasil, a vulnerabilidade é agravada pela precariedade dos acordos comerciais vigentes com o México. O principal instrumento, o ACE 55, cobre apenas o setor automotivo e alguns itens correlatos. Embora ele garanta livre comércio para cerca de 59,8% do valor das exportações brasileiras potencialmente afetadas (equivalente a US$ 1 bilhão), a cobertura é considerada limitada.
O anúncio do tarifaço ocorre em um momento paradoxal: justamente quando Brasil e México avançam nas negociações para modernizar seus acordos de integração econômica. Em agosto de 2025, Sheinbaum e o vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, firmaram um plano de trabalho com o objetivo de concluir um novo acordo até 2026. A pressão tarifária torna essas negociações ainda mais urgentes e estratégicas para a indústria brasileira.