Após mais de duas décadas e meia de negociações intermitentes, o Brasil projeta a assinatura histórica do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. O momento decisivo está marcado para este sábado, 20 de dezembro de 2025, durante a Cúpula do bloco sul-americano em Foz do Iguaçu.
Otimismo e obstáculos políticos na reta final
O clima entre os negociadores é descrito como de otimismo cauteloso. De um lado, há uma sensação de que a linha de chegada está finalmente à vista. De outro, persistem preocupações com as chamadas cláusulas de salvaguarda exigidas pelos europeus, que geram apreensão principalmente no setor agrícola brasileiro.
O principal ponto de tensão não é mais técnico, mas político, e tem nome: França. O presidente Emmanuel Macron enfrenta pressão interna de agricultores franceses, que temem perder competitividade com a entrada de produtos do Mercosul. A Itália, sob a liderança da primeira-ministra Giorgia Meloni, também demonstra ressalvas, embora em menor intensidade.
Lula rebate críticas e pede apoio europeu
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu publicamente ao que classificou como um "exagero político" por parte dos europeus. Em declarações diretas, Lula buscou desfazer o temor da concorrência desleal.
"O presidente Macron está muito preocupado com os agricultores franceses. Eles acham que vão perder competitividade para o Brasil. Eu digo a ele que o Brasil não compete com os produtos agrícolas franceses. São coisas diferentes, qualidades diferentes — e estamos concedendo mais do que eles", afirmou o mandatário brasileiro.
Lula também fez um apelo direto à primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, cujo apoio é considerado crucial devido ao peso econômico e populacional da Itália no bloco europeu. É importante lembrar que o acordo precisa da aprovação unânime de todos os países-membros da UE para entrar em vigor.
O impacto econômico de um acordo histórico
As dimensões do tratado são colossais. Conforme destacado pelo presidente Lula, a parceria envolveria uma soma de PIBs superior a 22 trilhões de dólares e uma população conjunta que ultrapassa os 700 milhões de habitantes.
Os benefícios esperados para cada bloco são complementares:
- Para o Mercosul: Seria o primeiro tratado comercial com outro bloco econômico, promovendo uma abertura significativa para exportações agrícolas e uma maior integração na economia global.
- Para a União Europeia: Significaria acesso ampliado e facilitado aos mercados sul-americanos para setores como veículos, máquinas, vinhos e uma gama diversificada de bens industriais.
Agora, todos os olhos estão voltados para Foz do Iguaçu. A reunião de sábado não é apenas mais uma cúpula de rotina, mas potencialmente o palco de uma virada histórica nas relações comerciais entre dois continentes, após 26 anos de idas e vindas na mesa de negociação.