O governo de Donald Trump sofreu uma significativa derrota em sua política de tarifas contra o Brasil, conforme revelou uma extensa cronologia publicada pelo The New York Times. As retaliações comerciais, que chegaram a ameaçar aumentos de 40% sobre exportações brasileiras, foram completamente revogadas após intensa pressão de consumidores americanos e derrotas eleitorais republicanas.
A guerra tarifária que não vingou
O conflito comercial teve início em 9 de julho, quando Trump ameaçou impor tarifas de 50% contra o Brasil, citando explicitamente o que chamou de "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. A medida representava uma escalada dramática nas tensões entre os dois países.
No dia seguinte, 10 de julho, o presidente americano testou os limites legais de seus poderes tarifários, sinalizando que usaria a ameaça de taxas elevadas para tentar influenciar questões políticas internas do Brasil. A estratégia, porém, mostraria-se contraproducente.
Impacto direto no bolso do americano
As consequências das tarifas começaram a ser sentidas rapidamente pelos consumidores dos Estados Unidos. Em 13 de julho, o The New York Times já alertava que as medidas fariam subir os preços do café e do suco de laranja, produtos onde o Brasil tem participação significativa no mercado americano.
A situação se agravou quando, em 21 de julho, um importador de suco de laranja baseado nos EUA entrou com ação judicial contra as tarifas de 50%, argumentando que elas levariam a aumentos de preços no varejo de até 25%. A pressão do setor privado começava a se organizar.
Em 30 de julho, a Casa Branca impôs oficialmente a tarifa de 50% e sanções contra o Ministério Público brasileiro, intensificando a disputa com o governo Lula.
A virada diplomática e o recuo inevitável
O ponto de virada ocorreu em 14 de setembro, quando Trump e Lula se encontraram nos corredores da ONU. A partir desse momento, os dois países iniciaram conversas diplomáticas que pavimentaram o caminho para a revogação das tarifas.
O desfecho veio em 13 de novembro, quando o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado Marco Rubio se reuniram em Washington. Na mesma data, as tarifas extras foram retiradas com efeito retroativo, voltando aos 10% originais.
Segundo a análise do The New York Times, a suspensão das tarifas sobre alimentos foi um esforço explícito para aliviar os preços que estavam pesando no orçamento das famílias americanas. O recuo total representou uma admissão do erro por parte da administração Trump.
Consequências políticas e econômicas
As tarifas punitivas tiveram consequências diretas no cenário político americano. O jornal destacou que preocupações com acessibilidade ajudaram a impulsionar os democratas a vencer eleições em todo o país na primeira semana de novembro.
Antes mesmo das eleições, em 28 de outubro, o Senado americano já havia votado pelo fim das tarifas de Trump contra o Brasil. Um pequeno grupo de republicanos cruzou as linhas partidárias para se aliar aos democratas, demonstrando a insatisfação bipartidária com a medida.
O episódio mostrou que, apesar da retórica forte, as medidas protecionistas têm limites práticos quando começam a afetar diretamente o consumidor e setores importantes da economia.
A tentativa de usar tarifas como instrumento de pressão política internacional mostrou-se ineficaz, especialmente considerando que a condenação de Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão foi mantida pelo Supremo Tribunal Federal em 14 de novembro, um dia após a revogação das tarifas.