EUA reduzem tarifas sobre 37% das exportações brasileiras em gesto político
EUA reduzem tarifas sobre exportações do Brasil

Decisão americana une economia e diplomacia

Os Estados Unidos anunciaram a retirada da sobretaxa de 40% sobre 238 produtos brasileiros, marcando o primeiro movimento de flexibilização desde o anúncio do tarifaço em julho. A medida, que entrou em vigor retroativamente a 13 de novembro, combina fatores internos da economia americana com o andamento das negociações comerciais entre os dois países.

Pressão inflacionária motiva mudança

Segundo Abrão Neto, presidente da Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil), a pressão inflacionária foi o ponto central da decisão americana. "Com a alta de preços pesando sobre o consumidor americano, especialmente nos alimentos, o governo buscou formas de conter custos internos", explicou.

Não por acaso, os produtos liberados têm forte relação com a cadeia agroindustrial americana, incluindo itens como carnes bovinas e suínas, café, cacau, frutas tropicais, sucos, castanhas e alguns fertilizantes. O Brasil se consolida como fornecedor difícil de substituir nestes segmentos.

Impacto limitado nas exportações brasileiras

Nas contas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), os itens contemplados na ordem executiva respondem por cerca de 37% das exportações do Brasil aos EUA. Assim, a maior parte dos embarques — especialmente os industriais — permanece sujeita às tarifas.

Frederico Lamego, diretor de Relações Internacionais da CNI, destacou que setores como máquinas e equipamentos, móveis, couro, calçados, aviação, óleos e minerais seguem arcando com o adicional de 40% imposto em julho. "É uma situação delicada para a indústria", afirmou.

Diplomacia e negociações em andamento

Além da motivação econômica, a decisão dos EUA carrega um importante componente diplomático. Lamego reforçou que a ordem executiva faz referência — pela primeira vez desde julho — ao processo de negociação com o Brasil, sinalizando mudança no clima político entre os dois países.

"Foi um gesto de boa vontade de Washington para o avanço das negociações comerciais com o Brasil", avaliou o diretor da CNI.

Abrão Neto, da Amcham Brasil, acrescentou que a medida não surgiu de forma espontânea: ela responde a uma proposta apresentada pelo governo brasileiro e marca a retomada de conversas que estavam paralisadas. O distensionamento político entre Brasil e EUA, com a aproximação entre os dois presidentes, criou condições para que essa decisão se materializasse.

Setores excluídos mantêm preocupação

Mesmo com o alívio tarifário concedido, setores importantes da indústria brasileira continuam totalmente expostos à sobretaxa aplicada pelos Estados Unidos. Entre eles estão os fabricantes de calçados e de móveis, que não foram incluídos na lista de produtos beneficiados.

A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) recebeu a medida com cautela. Haroldo Ferreira, presidente-executivo da entidade, afirmou que o tarifaço de 50% vem causando enormes prejuízos, especialmente para empresas do Rio Grande do Sul e de São Paulo, os principais exportadores para aquele país.

Entre as indústrias moveleiras, representadas pela Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (ABIMÓVEL), o entendimento é ainda mais crítico. Para a entidade, a ordem executiva praticamente não altera o quadro atual.

"O setor segue lidando com revisão de pedidos, renegociação de contratos e redirecionamento de exportações, enquanto tenta mitigar as perdas", afirmou a associação.

Benefícios limitados e próximos passos

João Henrique Gasparino, diretor executivo da NimbusTax, explicou que o alívio tarifário anunciado pelos EUA não alcança todas as exportações brasileiras. "Todos os demais itens brasileiros, que não aparecem no anexo, seguem sujeitos ao adicional de 40%", afirmou.

O especialista ressaltou que, mesmo entre os produtos contemplados, o benefício é limitado, pois só elimina a sobretaxa de 40%. "Permanecem as tarifas de base, medidas antidumping e barreiras sanitárias, o que mantém custos relevantes para parte das exportações", reforçou.

A expectativa dos setores excluídos é que a lógica aplicada aos alimentos — com foco na inflação e na garantia de oferta — seja considerada também para bens industriais nas próximas rodadas de negociação.