Inflação da carne nos EUA sobe 9% em 6 meses com tarifas de Trump
Carne é o fraco na inflação americana pós-tarifas de Trump

O principal indicador de inflação monitorado pelo Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos se manteve abaixo de 3% pelo 122º mês consecutivo em setembro, mas um item específico tem pesado no bolso do consumidor americano: a carne. A alta nos preços do produto, impulsionada por tarifas comerciais, se tornou um ponto sensível na economia e na política do país.

Os números da inflação e o peso da proteína

De acordo com dados do Departamento de Comércio divulgados na sexta-feira, 5 de dezembro de 2025, o índice de preços de despesas de consumo pessoal (PCE) subiu 0,3% em setembro. Este relatório, atrasado devido a uma paralisação do governo, mostrou que a taxa de inflação anualizada pelo PCE aumentou levemente para 2,8%, contra 2,7% em agosto.

A taxa subjacente, que exclui alimentos e energia, recuou para 2,8% ante 2,9% no mês anterior. Apesar da moderação geral, o preço da carne se destacou como um dos principais vilões do custo de vida. O produto registrou alta de 2,2% apenas em setembro e acumula um aumento expressivo de 9% nos últimos seis meses, com valores chegando a equivaler a R$ 150 por libra nos Estados Unidos.

O impacto das tarifas e a reação do mercado

A escalada nos preços tem uma explicação direta: as tarifas de importação impostas pelo governo do ex-presidente Donald Trump. México e Brasil, respectivamente o segundo e o primeiro maiores fornecedores de carne bovina para os EUA, foram alvos dessas medidas, que chegaram a 40% sobre o produto brasileiro.

Essa pressão tarifária se reflete nos contratos futuros negociados nas bolsas americanas. O contrato de Boi Gordo para entrega em dezembro teve alta semanal de 3,76%, enquanto o de Novilho para janeiro de 2026 subiu 4,25% na semana e acumula valorização de 33,95% em um ano. Analistas apontam que a solução para a pressão inflacionária sobre a carne está justamente na revogação dessas tarifas, consideradas essenciais para a cadeia de produção de hambúrgueres.

Um recuo estratégico e as perspectivas

Inicialmente anunciado com grande estardalhaço em abril como o "Dia da Libertação", o pacote de tarifas de Trump se revelou, na avaliação de especialistas, um duplo fiasco: econômico e político. A medida contribuiu para a inflação e parece ter afetado a popularidade do ex-presidente. Pesquisas citadas mostram que sua taxa de aprovação, que era de 52% em fevereiro, caiu para 42% no final de novembro, enquanto a desaprovação saltou de 44% para 55%.

A pressão do setor empresarial dos dois países forçou uma reaproximação. Após um período de tensão, onde o Brasil chegou a ser tratado de forma hostil, Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontraram na ONU em setembro. Desde então, negociações foram retomadas e algumas tarifas começaram a ser reduzidas, embora as que incidem sobre a carne e o café – outro item crítico – ainda permaneçam elevadas.

O mercado futuro de café para março na bolsa Nymex, por exemplo, já opera com quedas, indicando a expectativa dos investidores pelo fim das barreiras comerciais. O movimento sinaliza que, longe de ser um problema, o Brasil é visto como parte da solução para estabilizar os preços nos Estados Unidos. Enquanto isso, o Federal Reserve segue monitorando os dados. O "Wall Street Journal" destacou que o cenário de inflação moderada torna provável um novo corte de juros de 0,25% na reunião do dia 10 de dezembro.