Japão eleva juros ao maior nível em 30 anos: desafio entre inflação e dívida
Banco do Japão eleva juros ao maior nível desde 1995

O Banco do Japão anunciou nesta sexta-feira, 19 de dezembro de 2025, uma decisão histórica que marca uma virada na política monetária do país. A autoridade monetária elevou a taxa básica de juros para 0,75%, o patamar mais alto registrado desde o ano de 1995. O movimento representa um passo significativo no abandono da política monetária ultrafrouxa que vigorou por décadas, adotada originalmente para combater a deflação crônica.

O Contexto do Aumento: Inflação e Iene Fraco

A decisão do banco central japonês é uma resposta direta a pressões econômicas persistentes. A inflação no país permanece acima da meta oficial de 2% há quase quatro anos, um fenômeno incomum na economia japonesa. Paralelamente, o iene tem sofrido forte desvalorização, impulsionado pela grande diferença entre os juros locais e os praticados em outras economias avançadas, como os Estados Unidos.

Essa combinação tem encarecido as importações e pressionado os preços internos, enquanto os salários não conseguem acompanhar o ritmo de alta, limitando o poder de consumo das famílias. Ao elevar os juros, o Banco do Japão busca reduzir esse diferencial com o exterior, sustentar o valor do iene e, indiretamente, aliviar a pressão inflacionária.

O Dilema Fiscal: Estímulo e Dívida Recorde

O aperto monetário ocorre em um momento delicado para a política fiscal do governo liderado pela primeira-ministra Sanae Takaichi. Recentemente, foi aprovado um pacote de estímulos econômicos de cerca de 117 bilhões de dólares, com recursos para subsídios familiares, aumento do orçamento militar e investimentos em setores estratégicos como semicondutores e construção naval.

O paradoxo está no financiamento: mais da metade desse valor será coberta pela emissão de novos títulos públicos. Isso amplia o desafio, pois a dívida pública japonesa já supera duas vezes o tamanho do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Em um cenário de juros mais altos, o custo para financiar essa dívida colossal tende a subir, criando um cabo de guerra entre estímulo fiscal e sustentabilidade das contas públicas.

Reações dos Mercados e Perspectivas de Crescimento

O anúncio já provocou reações imediatas nos mercados financeiros. Investidores demonstraram preocupação com a trajetória da dívida, o que levou a uma venda de títulos do governo japonês. Esse movimento empurrou os rendimentos dos títulos de longo prazo para os níveis mais altos em quase 20 anos.

Por outro lado, analistas veem o pacote fiscal como um possível suporte para o crescimento. A consultoria BMI, do grupo Fitch Solutions, revisou para cima sua projeção para o PIB japonês em 2026, saindo de 0,7% para 1,4%. A expectativa é que os gastos governamentais ajudem a sustentar a atividade econômica, especialmente após uma contração no terceiro trimestre de 2025, pressionada por tarifas americanas sobre exportações japonesas.

Economistas alertam, no entanto, que o Banco do Japão deve agir com extrema cautela. A expectativa é de que os aumentos de juros sejam graduais, intercalados com períodos de observação para avaliar os impactos sobre o consumo, os investimentos e os preços. O país, pouco acostumado a conviver com juros elevados nas últimas décadas, inicia uma nova fase de sua política econômica, na qual precisará equilibrar o estímulo ao crescimento, o controle da inflação e a administração da maior dívida pública do mundo desenvolvido.