Incêndio em Hong Kong expõe crise habitacional extrema
Incêndio em Hong Kong revela crise de moradia

Tragédia revela faces da crise habitacional em Hong Kong

Um incêndio de grandes proporções atingiu nesta quarta-feira (26) um dos enormes condomínios de arranha-céus que marcam a paisagem de Hong Kong. A tragédia resultou em mortos e feridos, expondo dramaticamente a grave crise de moradia que assola a região.

O epicentro da crise imobiliária mundial

Hong Kong ocupa uma posição triste nos rankings internacionais: é considerada o local com o metro quadrado mais caro do planeta. A combinação explosiva de alta demanda, oferta limitada, falta de espaço para expansão e edifícios cada vez mais altos criou uma das situações habitacionais mais extremas do mundo.

O problema fundamental reside no desequilíbrio entre oferta e demanda. Assim como ocorre em outras metrópoles globais como São Paulo, Londres e Nova Iorque, a procura por moradia cresceu muito mais rapidamente do que a disponibilidade de unidades. Porém, em Hong Kong, essa situação é agravada por uma peculiaridade: embora exista terra disponível, grande parte não está preparada para construção.

O controle governamental e os "apartamentos-caixão"

O governo mantém controle sobre esses terrenos e os libera gradualmente através de leilões, uma estratégia que mantém os preços artificialmente elevados. Essa profunda desigualdade espacial deu origem a um fenômeno chocante: os chamados "apartamentos-caixão" - minúsculos cubículos onde milhares de pessoas vivem em condições mínimas de sobrevivência.

Sem possibilidade de expansão horizontal, a solução encontrada foi crescer verticalmente. Hoje, Hong Kong apresenta uma densidade vertical sem paralelos no mundo:

  • 558 arranha-céus com mais de 150 metros
  • Aproximadamente 4.000 edifícios acima de 100 metros

Como define o repórter Rodrigo Carvalho, "Hong Kong está empilhando as pessoas".

Especialistas apontam causas estruturais

Segundo analistas, a crise nasce da combinação entre especulação imobiliária e precariedade do trabalho. Betty Xiao Wang, professora da Universidade de Hong Kong, faz um alerta preocupante: "Há moradores de rua em Londres, Nova York. Aqui, basicamente, eles estão alojados nos apartamentos-caixão. Se o governo proibisse completamente, pra onde iriam? Para as ruas?"

A tragédia do incêndio serve como um triste lembrete das consequências humanas de uma crise habitacional que parece longe de uma solução, colocando em evidência a urgência de políticas públicas que enfrentem tanto a especulação quanto a falta de moradia digna.