Um retrato detalhado das desigualdades sociais e raciais no mercado de trabalho foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (3). Os números da Síntese de Indicadores Sociais revelam uma realidade alarmante no estado da Paraíba: as mulheres que se autodeclaram pretas ou pardas têm um rendimento médio 66% menor do que o dos homens brancos.
O abismo salarial em números
Enquanto os homens brancos na Paraíba recebem, em média, R$ 1.661 por mês, as mulheres pretas e pardas ficam com apenas R$ 1 mil. A análise da série histórica, que começou em 2012, mostra que a distância entre os dois grupos não só persiste, como se ampliou em termos absolutos.
Em 2012, a diferença de rendimento era de R$ 442. Doze anos depois, em 2024, esse hiato saltou para R$ 661. Isso ocorreu porque, embora ambos os grupos tenham tido ganhos reais, o crescimento foi desigual. O rendimento dos homens brancos aumentou 30%, passando de R$ 1.277 para R$ 1.661. Já o das mulheres pretas e pardas cresceu apenas 19%, saindo de R$ 835 para os atuais R$ 1 mil.
Mudanças no panorama geral e por gênero
O estudo do IBGE também analisa o rendimento real domiciliar per capita médio no estado, desconsiderando benefícios sociais. Nesse indicador geral, a Paraíba registrou uma elevação de 29% entre 2012 e 2024, passando de R$ 971 para R$ 1.253.
No recorte por gênero, porém, houve uma inversão curiosa. Em 2012, as mulheres paraibanas tinham uma pequena vantagem de renda sobre os homens (R$ 979 contra R$ 963). Em 2024, essa situação se inverteu: os homens passaram a ganhar mais (R$ 1.276) do que as mulheres (R$ 1.231). A variação no período foi de 32,5% para eles e 25,7% para elas.
A persistente hierarquia por cor ou raça
Quando a análise considera apenas o fator cor ou raça, a hierarquia de rendimentos se mantém clara e com crescimento desigual. As pessoas autodeclaradas brancas tiveram o maior rendimento médio e também o maior crescimento percentual: 31,3%, saltando de R$ 1.259 para R$ 1.653.
Os demais grupos ficaram para trás:
- Pardos: aumento de 27%, de R$ 818 para R$ 1.039.
- Pretos: aumento de 19,8%, de R$ 906 para R$ 1.085.
Os dados consolidam a interseccionalidade entre gênero e raça como um fator determinante para a desigualdade econômica. A combinação de ser mulher e preta ou parda coloca essa população no patamar mais baixo da escala de rendimentos na Paraíba, evidenciando um duplo preconceito estrutural.
A Síntese de Indicadores Sociais do IBGE serve como um importante termômetro das condições de vida no Brasil. Os números da Paraíba destacam a urgência de políticas públicas específicas que enfrentem simultaneamente o racismo e o sexismo no mercado de trabalho, visando a redução de disparidades históricas que, como mostram os dados, podem estar se agravando com o tempo.