Apenas 20% das empresas darão aumento real em 2026, aponta pesquisa
Apenas 20% das empresas darão aumento real em 2026

O cenário para os reajustes salariais em 2026 será bastante restritivo, segundo o Guia Salarial 2026 da Michael Page. Apenas uma em cada cinco empresas pretende oferecer aumentos reais aos funcionários no próximo ano, revelando um abismo entre as expectativas dos profissionais e a realidade das organizações.

Cenário econômico influencia decisões salariais

O levantamento mostra que 45% das empresas não planejam elevar salários além dos reajustes obrigatórios, um aumento significativo em relação aos 30% do ano anterior. Essa postura reflete um ambiente econômico marcado por incertezas e busca por eficiência operacional.

Lucas Oggiam, diretor executivo da Michael Page, explica que conceder aumento real representa um compromisso permanente no custo fixo, o que leva as empresas a agir com cautela. "Estamos vivendo um momento complexo, tanto local quanto global. A prioridade das empresas é manter a saúde do caixa, com foco total na sustentabilidade imediata", afirma o executivo.

Insatisfação impacta engajamento dos profissionais

A realidade atual já reflete essa tendência: nos últimos 12 meses, 59% dos profissionais não tiveram aumento salarial. A consequência direta aparece nos índices de satisfação - apenas 5% dos entrevistados afirmam estar muito satisfeitos com sua remuneração atual.

O descontentamento com os salários afeta diretamente o engajamento no trabalho. A pesquisa revela que somente 16% dos profissionais estão muito satisfeitos com seu trabalho, enquanto 38% estão pouco satisfeitos e 35% relatam algum nível de descontentamento.

Benefícios ganham espaço como estratégia de retenção

Com pouco espaço para reajustes salariais, os pacotes de benefícios tornam-se estratégicos para atrair e reter talentos. Segundo o estudo, 55% dos entrevistados veem esses itens como essenciais nesse processo.

Entre os benefícios mais valorizados estão bônus, plano de saúde, alimentação e previdência privada, seguidos por programas de capacitação e desenvolvimento profissional.

Ricardo Basaglia, presidente da Michael Page no Brasil, ressalta que "o desafio é construir pacotes que realmente façam diferença para os colaboradores, sem comprometer a competitividade".

A lógica por trás dessa estratégia é clara: benefícios têm custos variáveis e menor impacto tributário, além de responder às demandas crescentes por flexibilidade. No entanto, ainda existe uma distância entre o desejo dos profissionais e a oferta das empresas - enquanto 42% dos candidatos consideram essencial ter benefícios flexíveis, 48% das empresas oferecem pacotes padronizados, sem personalização.

Escassez de talentos e habilidades comportamentais

O estudo aponta outro desafio significativo: 73% das empresas têm dificuldade para contratar profissionais qualificados. A demanda vai além do conhecimento técnico - 88% das companhias valorizam habilidades comportamentais como inteligência emocional, pensamento crítico e adaptabilidade.

Essa mudança reforça a necessidade de programas de desenvolvimento, mas há uma desconexão: embora 60% das empresas declarem oferecer capacitação, apenas 28% dos profissionais dizem utilizar esse benefício.

Quanto ao quadro de funcionários, 49% das empresas pretendem mantê-lo estável, enquanto 44% planejam contratar com aumentos moderados, geralmente de até 10%.

No que diz respeito ao modelo de trabalho, o presencial integral ainda predomina em 42% das empresas. O modelo híbrido aparece em segundo lugar, com 44% de adesão, refletindo a busca por equilíbrio entre produtividade, redução de custos e qualidade de vida.

Oggiam reforça que, embora benefícios não substituam totalmente o salário, eles contribuem para elevar o nível de satisfação. "Empresas mais estruturadas buscam entender as reais necessidades das pessoas e aplicam políticas que funcionem para seu pessoal", conclui.