O mercado financeiro brasileiro começa esta semana com atenção redobrada para dois indicadores cruciais: o IPCA-15 e o comportamento do dólar. Esses fatores têm se mostrado mais decisivos para a trajetória da taxa Selic do que qualquer discurso político em circulação.
Inflação em queda lenta e projeções do mercado
Os dados das primeiras semanas de novembro indicam que a inflação continua em trajetória descendente, embora em ritmo considerado lento pelos especialistas. O relatório Focus, publicação semanal do Banco Central, trouxe uma nova redução na projeção para 2025: de 4,46% para 4,45%, ficando abaixo do teto da meta de inflação que é de 4,5%.
Alisson Correia, da Dom Investimentos, ressalta que apesar da tendência de queda, o ritmo "ainda é lento demais" para acionar alertas verdes no Banco Central. O consumo típico do período de Black Friday e das festas de dezembro aparece como um risco adicional no radar dos economistas.
Copom deve manter Selic em 15% em dezembro
Diante desse cenário, a expectativa geral é que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha a taxa Selic em 15% na reunião marcada para os dias 9 e 10 de dezembro. Porém, um grupo crescente de analistas já começa a projetar o primeiro corte de juros para janeiro de 2026.
Alisson Correia integra esse grupo e defende a possibilidade de um recuo inicial de 0,25 ponto percentual logo no começo de 2026, desde que a inflação mantenha sua trajetória de queda e não ocorram reversões repentinas na curva.
Marcelo Siqueira, da A7 Capital, segue na mesma linha e enxerga "chance concreta" de corte já em janeiro. Para que isso aconteça, ele destaca duas condições essenciais: a inflação de serviços precisa continuar desacelerando e a ata do Copom deve mostrar espaço para flexibilização monetária.
Dólar é peça-chave no quebra-cabeça dos juros
Ambos os especialistas reforçam que não há decisão sobre a Selic sem considerar o comportamento do câmbio - e é exatamente nesse ponto que a situação se complica. Historicamente, o fim do ano é marcado por saída de recursos, remessas corporativas e fluxos offshore, fatores que exercem pressão de alta sobre o dólar.
Se a moeda americana subir excessivamente, o espaço para cortar juros diminui significativamente. O dólar já dá sinais de inquietação e deve apresentar oscilações até dezembro.
Alisson Correia calcula que a moeda pode "beliscar R$ 5,45", mas não visualiza um cenário de disparada graças ao carry trade, às taxas de juros altas que ainda atraem recursos especulativos e ao fluxo positivo acumulado ao longo do ano.
O recado final dos especialistas é claro: o corte de juros em janeiro depende de uma combinação delicada entre inflação cedendo, dólar comportado e consumo doméstico sem surpresas negativas. Qualquer solavanco - seja de origem externa ou interna - pode adiar a decisão do Copom para março de 2026.