Os mercados financeiros brasileiros apresentaram movimentos divergentes nesta segunda-feira (15), com o dólar registrando leve alta e a Bolsa de Valores fechando com forte valorização. A sessão foi marcada pela divulgação de um importante indicador de atividade econômica, que sinaliza um início de desaceleração no último trimestre do ano.
Mercados Reagem a Dados Econômicos
A moeda norte-americana encerrou o dia cotada a R$ 5,419, com um avanço de 0,14%. Em contrapartida, o principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa, disparou 1,06% e marcou 162.480 pontos ao final do pregão.
O movimento foi diretamente influenciado pela publicação do IBC-Br, considerado uma espécie de "prévia" do Produto Interno Bruto (PIB). O indicador mostrou que a economia brasileira iniciou o quarto trimestre no negativo, com um recuo de 0,2% em outubro. Este é o segundo mês consecutivo de queda, após uma retração de 0,19% em setembro.
O resultado frustrou as expectativas do mercado, que projetava uma alta de 0,1%, segundo consulta da Reuters. Para analistas, o dado reforça que a atividade econômica entrou em uma trajetória de desaquecimento, pressionada pelos juros altos.
Cenário Econômico e Expectativas para a Selic
O IBC-Br se soma a outros indicadores que apontam para uma desaceleração. O PIB do terceiro trimestre, por exemplo, avançou apenas 0,1%, o resultado trimestral mais fraco desde o final de 2024.
No entanto, especialistas acreditam que o cenário atual não indica uma recessão iminente. "Não aponta para uma desaceleração intensa o suficiente para indicar uma recessão no horizonte", avalia André Valério, economista sênior do Inter. A instituição mantém a expectativa de que o PIB feche o ano com crescimento de 2,2%.
O dado negativo do IBC-Br fortalece a tese de que o Banco Central pode iniciar o ciclo de cortes da taxa Selic já no primeiro trimestre de 2026. Valério projeta que o corte inaugural aconteça na reunião de janeiro, impulsionado pelo processo de desinflação recente, medido pelo IPCA.
Juros mais baixos tendem a beneficiar a renda variável, especialmente empresas ligadas ao consumo doméstico, como varejistas. Por outro lado, uma queda na Selic reduziria o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, um dos fatores que tem valorizado o real no último ano.
Atenção às Comunicações do BC e Dados dos EUA
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 15% ao ano, seu maior patamar em quase duas décadas. A comunicação oficial não deu clara direção para os próximos passos, aumentando a expectativa em torno da ata da reunião, que será divulgada na terça-feira de manhã.
Além disso, o Relatório de Política Monetária do BC está previsto para quinta-feira. O presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, concederá entrevista à imprensa logo após a divulgação, e investidores buscarão pistas sobre o futuro da política monetária.
A agenda internacional também será decisiva. Dados dos Estados Unidos, como o relatório de emprego (payroll) de terça-feira e os números oficiais de inflação de quinta, podem definir o rumo da taxa de juros do Federal Reserve (Fed).
Na semana passada, o Fed cortou sua taxa de referência em 0,25 ponto percentual, para a banda de 3,5% a 3,75%. O presidente Jerome Powell afirmou que os juros estão "bem posicionados" e que as decisões serão tomadas "reunião a reunião". Declarações recentes de outros dirigentes, como Austan Goolsbee (Chicago) e Jeffrey Schmid (Kansas City), reforçam que as próximas divulgações macroeconômicas serão cruciais. No momento, o mercado precifica uma probabilidade de 22% para um novo corte de 0,25 ponto em janeiro.
Em nota separada, o Itamaraty informou que o acordo entre Mercosul e União Europeia pode ser assinado no sábado, mas destacou preocupações com as salvaguardas que serão apresentadas pelo bloco europeu.