
Franca, no interior de São Paulo, sempre foi sinônimo de sapato de qualidade. Mas hoje, o clima nas fábricas é de aperto no coração — e no bolso. O motivo? Um pacote de tarifas imposto pelos Estados Unidos que chegou como um balde de água fria para o setor.
"A gente já vinha segurando as pontas com unhas e dentes, mas isso pode ser o último prego no caixão", desabafa um empresário do polo calçadista, que pediu para não ser identificado. Os números explicam o desespero: mais de 60% das exportações da região têm como destino justamente o mercado americano.
Efeito dominó
Não é exagero dizer que a cidade respira calçados. Com mais de 400 fábricas, o setor emprega diretamente cerca de 35 mil pessoas — sem contar os empregos indiretos. Agora, com os preços dos produtos brasileiros subindo lá fora, a conta não fecha:
- Preços até 25% mais altos para o consumidor americano
- Encomendas em queda livre desde o anúncio das tarifas
- Fábricas considerando reduzir turnos de trabalho
"É como se o tapete fosse puxado debaixo dos nossos pés", compara Maria Silva, operária há 12 anos no setor. Ela teme pelo emprego — e não está sozinha.
O outro lado do oceano
Enquanto isso, nos corredores do governo, a discussão esquenta. Alguns defendem medidas de retaliação, outros apostam em negociações diplomáticas. "Temos que jogar o jogo com inteligência, não com emoção", opina um assessor do Ministério da Economia.
Mas o tempo corre contra: a cada dia sem solução, mais pedidos são cancelados. E o cheiro de couro que sempre dominou as ruas de Franca pode dar lugar ao silêncio das máquinas paradas.