O Comitê de Política Monetária (Copom) deve manter uma postura conservadora nas próximas semanas, segundo análise do economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Igor Rocha. Em entrevista ao programa Mercado, apresentado por Veruska Donato, o especialista projetou que a taxa básica de juros permanecerá em 15% ao ano até o final de 2025, com os primeiros cortes ocorrendo apenas no primeiro semestre do próximo ano.
Tom conservador do Copom
De acordo com Rocha, o Banco Central está executando um trabalho competente, mas aguarda uma melhora mais consistente nas expectativas de inflação antes de iniciar o ciclo de redução da Selic. "Não há grandes novidades. O Banco Central está fazendo um trabalho competente, mas ainda espera uma melhora mais consistente nas expectativas para começar a reduzir a Selic", afirmou o economista durante a entrevista concedida em 7 de novembro de 2025.
A ata da reunião do Copom, que será divulgada na terça-feira, não deve trazer surpresas para o mercado. A principal mensagem do documento será a continuidade da política de aperto monetário para consolidar a ancoragem das expectativas de inflação.
Impacto na indústria brasileira
O cenário de juros elevados já mostra reflexos concretos na atividade industrial. Rocha destacou que, enquanto no ano passado a indústria cresceu 3,1%, em 2025 o setor deve registrar expansão inferior a 1%. "É um freio de arrumação claro, reflexo direto da política monetária ainda muito dura", avaliou o especialista.
O economista da Fiesp explicou que o crédito está um pouco mais barato do que no início do ano, mas ainda se mantém em patamares muito restritivos para incentivar a expansão da economia. "O custo do dinheiro ainda trava investimentos e pesa na atividade produtiva", alertou.
Perspectivas para 2026
Para o próximo ano, o setor industrial espera um ciclo de cortes moderado e previsível. Segundo Rocha, o movimento dependerá da evolução da inflação e da política fiscal. "O Copom vai preferir errar pelo excesso de prudência. Só quando houver clareza de que as expectativas estão firmemente ancoradas é que veremos a Selic cair de fato", concluiu.
O especialista destacou que o Banco Central está coordenando cuidadosamente o movimento entre a Selic e os juros futuros. Uma sinalização precipitada de cortes poderia desancorar as expectativas e gerar efeito contrário ao desejado.
Enquanto a Selic reflete o curto prazo, bancos e o setor produtivo baseiam suas decisões nos juros futuros, que já mostram queda gradual desde o final de 2024. Até que ocorram os cortes na taxa básica, o diagnóstico permanece o mesmo: juros altos, crédito caro e crescimento tímido, configurando um quadro de resistência controlada que continua testando o fôlego da indústria brasileira.