O governo federal anunciou nesta terça-feira, 16 de dezembro, uma nova linha de crédito no valor total de R$ 10 bilhões para financiar a compra de caminhões. A iniciativa tem como objetivo enfrentar uma desaceleração abrupta no setor, que ameaça postos de trabalho, e oferecer crédito com taxas de juros abaixo das praticadas no mercado.
Como funcionará o financiamento
Os recursos serão provenientes de duas fontes principais. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que atuará como agente financeiro do programa, disponibilizará R$ 4 bilhões. Já o Tesouro Nacional irá injetar R$ 6 bilhões para viabilizar os empréstimos a taxas subsidiadas. A autorização para o repasse do dinheiro foi dada por uma Medida Provisória (MP) publicada em edição extra do Diário Oficial da União.
A previsão é que sejam oferecidas quatro modalidades de financiamento, combinando duas variáveis: para pessoas físicas ou jurídicas, e com ou sem a entrega do caminhão antigo, em um processo conhecido como reciclagem de frota.
Taxas de juros e impacto fiscal
Os técnicos do governo estimam que a linha sem troca do veículo terá uma taxa de juros em torno de 14% ao ano, valor próximo da taxa básica da economia (Selic), que hoje está em 15% ao ano. Para quem optar pela renovação da frota, entregando o caminhão antigo, o custo do financiamento será ainda menor, como um incentivo adicional.
O diferencial entre essa taxa subsidiada e as taxas de mercado será bancado pelo Tesouro Nacional. Essa combinação de recursos públicos e do BNDES forma o que os especialistas chamam de "blend", uma mistura que permite o custo final reduzido para o comprador. Atualmente, o financiamento pelo BNDES via Finame custa cerca de 22% ao ano, considerado uma barreira para o setor.
O repasse do Tesouro é classificado como uma despesa financeira, portanto, não impacta o limite de gastos do arcabouço fiscal nem a meta de resultado primário. Contudo, a operação contribuirá para o aumento da dívida pública. A liberação efetiva dos recursos ainda depende da criação de uma ação específica no Orçamento de 2025, que será enviada ao Congresso Nacional.
Contexto setorial e político
A medida atende a uma demanda da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). A entidade prevê uma queda de aproximadamente 10% tanto na produção quanto nas vendas (emplacamentos) de caminhões. O presidente da Anfavea, Igor Calvet, já havia defendido a necessidade de um programa de renovação de frota ou de barateamento do crédito para reativar o mercado.
O anúncio ocorre em um cenário político sensível. A categoria dos caminhoneiros foi um importante pilar de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, cujo filho, Flávio Bolsonaro, anunciou pretensão de concorrer à Presidência em 2026, rivalizando com Lula, que buscará a reeleição. Apesar do timing, interlocutores do governo negam qualquer intenção eleitoral por trás da linha de crédito.
Os detalhes operacionais do programa ainda precisarão ser regulamentados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), presidido pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento) e pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Os pedidos de financiamento poderão ser protocolados no BNDES até 30 de junho de 2026.