Juros altos atraem investimento especulativo e reduzem dólar em 7,23%
Juros altos atraem investimento e reduzem dólar

O aumento do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos tem atraído um fluxo significativo de capitais especulativos para o país, contribuindo para a valorização do real frente ao dólar. Dados do Banco Central divulgados nesta terça-feira, 25 de novembro de 2025, mostram que a moeda norte-americana recuou 7,23% nos últimos 12 meses, impulsionada pelo atrativo dos juros brasileiros.

O impacto do diferencial de juros

Os números revelam uma mudança significativa no cenário de juros global. Enquanto o Federal Reserve (Fed) reduziu suas taxas de 5,00% em outubro de 2024 para 4,25% em outubro de 2025, o Banco Central do Brasil elevou a Selic de 10,75% para 15% no mesmo período. Esse movimento ampliou o diferencial entre as taxas, criando um ambiente mais atrativo para investidores estrangeiros.

Nesta terça-feira, o dólar foi cotado a R$ 5,3775 às 12h35, registrando baixa de 0,18% no dia. O ingresso de capitais especulativos tem sido fundamental para essa trajetória de valorização do real, embora essa relação não seja amplamente abordada pelas análises dos departamentos econômicos dos bancos e consultorias.

Investimentos brasileiros no exterior preocupam

O Banco Central também divulgou o Censo dos Capitais Estrangeiros em 2024, revelando dados preocupantes sobre a fuga de capitais. O total de Investimentos Estrangeiros Diretos no País (IDP) somava US$ 1,141 trilhão, com redução de US$ 142 bilhões frente a 2023.

Por outro lado, os Investimentos Diretos de Brasileiros no Exterior, principalmente em paraísos fiscais, totalizavam US$ 504 bilhões. O BC alertou que a posição especulativa de capitais brasileiros em offshores já supera o montante das reservas cambiais brasileiras, que ficaram em US$ 357 bilhões em outubro.

Dados das contas externas em outubro

Segundo análise do Departamento de Estudos Macroeconômicos do Bradesco, o déficit em transações correntes totalizou US$ 5,1 bilhões em outubro, superando a mediana das expectativas do mercado (US$ 4,7 bilhões). No acumulado em 12 meses, o saldo negativo soma US$ 76,7 bilhões, equivalente a 3,5% do PIB.

O Investimento Direto no País (IDP) surpreendeu positivamente pelo segundo mês consecutivo, com ingressos de US$ 10,9 bilhões. No acumulado em 12 meses, o saldo atingiu US$ 80,1 bilhões (3,6% do PIB), ultrapassando o déficit corrente. O Bradesco destaca que esta é a maior marca para um mês de outubro desde o período em que o Brasil detinha grau de investimento (2009-2010).

A melhora da conta corrente em outubro foi impulsionada pela balança comercial, que registrou saldo de US$ 6,2 bilhões. As exportações alcançaram o maior valor da série histórica para o mês, enquanto as importações mantiveram-se robustas apesar da desaceleração econômica no segundo semestre.

Serviços: além das viagens internacionais

Um dado que preocupa especialistas é o crescimento das despesas com propriedade intelectual e tecnologia da informação nas contas de serviços, que registraram déficit de US$ 44,712 bilhões em 10 meses.

De janeiro a outubro, os gastos líquidos com Viagens totalizaram US$ 11,484 bilhões, sendo superados pelos gastos com Transportes (US$ 12,267 bilhões) e Aluguel de equipamentos (US$ 9,975 bilhões).

Porém, os gastos efetivos com Propriedade Industrial somaram US$ 9,175 bilhões e os com Computação, Tecnologia e Informações ficaram em US$ 7,182 bilhões. Em um ano, esses dois itens aumentaram US$ 3,069 bilhões, sinalizando uma dependência tecnológica que pode gerar futuros embates nas relações entre Brasil e Estados Unidos.

O aumento do diferencial de juros a partir de junho, quando o Copom elevou a Selic de 14,75% para 15%, estancou a sangria de capitais e inverteu o fluxo, que passou a ser crescente com a baixa dos juros nos EUA. A expectativa de nova redução dos fed funds para 3,75% em dezembro explica a cautela do BC em relação à Selic.