Isenção do IR para quem ganha até R5 mil: alívio vai para dívidas
Isenção IR até R5 mil: dinheiro vai pagar dívidas

O governo federal anunciou com grande entusiasmo uma medida que promete aliviar o bolso dos trabalhadores brasileiros: a partir de janeiro de 2026, quem ganha até R$ 5 mil mensais ficará isento do Imposto de Renda. A propaganda oficial trata o benefício como um extra que cairá na conta dos contribuintes, pronto para ser convertido em consumo e movimentar a economia.

Realidade por trás do alívio tributário

Porém, a realidade que espera esse dinheiro é bem menos glamourosa do que o governo apresenta. De acordo com análise de Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, grande parte dessa renda "nova" nem sequer será usada para compras ou lazer. O destino mais provável será o pagamento de dívidas antigas que assombram milhões de brasileiros.

Os números do endividamento no Brasil são alarmantes e ajudam a entender por que o alívio tributário não se transformará em consumo. Segundo a Serasa, o país atingiu a marca histórica de 80,4 milhões de endividados. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) traz dados igualmente preocupantes: 79,5% das famílias brasileiras estão endividadas, sendo que três em cada dez têm contas em atraso.

Impacto econômico da medida

Diante desse cenário de sufoco financeiro, Agostini ressalta que é impossível prever com precisão o impacto inflacionário da isenção do Imposto de Renda. "Nem toda renda disponível vira consumo — e pode virar majoritariamente abatimento de dívida", explica o economista.

Na prática, isso significa que o alívio tributário não deve causar pressão significativa sobre os preços nem encher os carrinhos de supermercado. Seu efeito mais imediato será ajudar milhões de brasileiros a limpar o nome e recuperar o fôlego financeiro.

Consequências para o varejo e a economia

Enquanto o governo comemora a medida como uma vitória política, o setor varejista permanece em expectativa. A euforia anunciada nas propagandas oficiais não se traduz em otimismo no comércio, que segue esperando na calçada por um aumento real nas vendas.

A medida, que poderia ser um impulso para o PIB em outras circunstâncias, se transforma em um simples respiro para as finanças pessoais dos brasileiros. Até que a vida financeira das famílias volte a caber dentro do salário mensal, qualquer extra será direcionado prioritariamente para quitar obrigações pendentes.

O cenário descrito pelos especialistas mostra que, embora a isenção do Imposto de Renda seja bem-vinda, ela chega em um momento onde o endividamento recorde da população limita seu potencial de estimular a economia. O dinheiro que deixará de ser recolhido pelos cofres públicos terá um destino mais urgente: organizar as contas domésticas de milhões de brasileiros.