O Banco Central divulgou nesta segunda-feira, 15 de dezembro de 2025, a mais recente edição da pesquisa Focus, que traz um cenário misto para a economia brasileira. De um lado, a inflação segue em trajetória de queda, aproximando-se do centro da meta. De outro, os juros básicos devem permanecer no patamar elevado atual por mais tempo, travando a atividade econômica.
Inflação em queda dentro da meta, mas juros altos persistem
A previsão do mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses, colhida na sexta-feira e divulgada hoje, recuou de 4,40% para 4,36%. O número se mantém dentro do teto da meta de inflação, que é de 4,50%. A expectativa é de que o indicador continue caindo, podendo chegar a 3,1% em meados de 2027.
Apesar desse cenário positivo para os preços, a má notícia vem da taxa básica de juros, a Selic. O mercado financeiro não espera uma redução na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 28 de janeiro. A expectativa é de que a taxa seja mantida em 15% ao ano.
Se essa projeção se confirmar, o juro real (descontada a inflação) encerrará o ano de 2025 em um patamar expressivo de 10,2%. Para janeiro de 2026, os analistas preveem um repique da inflação mensal, que ficaria em 0,41%, contra 0,16% registrado em janeiro de 2025. Em compensação, fevereiro deve trazer uma forte queda na taxa em 12 meses, já que a alta de fevereiro de 2025 (1,31%) – pressionada pelos reajustes escolares – será substituída por uma projeção entre 0,53% e 0,54% para 2026.
Economia mostra fraqueza e pressiona por corte de juros
Enquanto o Copom avalia os dados de inflação, os indicadores de atividade apontam para uma desaceleração. O Banco Central também divulgou hoje o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de outubro, considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB).
Os números são preocupantes: após uma variação de apenas 0,1% no terceiro trimestre, o primeiro mês do último trimestre de 2025 registrou queda de 0,2% no índice dessazonalizado. A contração foi puxada principalmente pelos setores de Serviços (-0,2%) e Indústria (-0,7%).
O setor de Serviços, que representa 65% do PIB e é o maior empregador do país, funciona como um termômetro da economia. A Agropecuária, mesmo com um crescimento robusto de 3,1% em outubro, puxado pela safra de milho, tem peso pequeno (7%) e não foi suficiente para reverter o resultado negativo geral.
Copom entre a cautela e a urgência: corte de 0,50% em março?
Diante desse quadro – inflação controlada, mas economia fraca –, o Copom se vê em um dilema. Em janeiro, o comitê deve adotar uma postura cautelosa, aguardando para ver o impacto de medidas como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e o comportamento do mercado de trabalho após o período natalino.
Analistas, como os do Santander, avaliam que, se o Copom mantiver os juros em janeiro, aumenta a possibilidade de o primeiro movimento de baixa ocorrer apenas na reunião de 18 de março. Nesse cenário, o corte poderia ser de 0,50 ponto percentual, levando a Selic para 14,50% ao ano.
Para o colunista Gilberto Menezes Côrtes, autor da análise original, postergar o início do ciclo de cortes seria um erro. "O Copom deve ter confiança nos indicadores e intervir rápido", defende. A crítica se baseia no histórico recente, onde projeções exageradas para a inflação e subestimativas para o PIB teriam mantido os juros mais altos e por mais tempo que o necessário.
O resultado desse conservadorismo, na visão do analista, foi um gasto astronômico com juros, que travou o crescimento econômico e acentuou a concentração de renda em favor dos rentistas e do sistema financeiro.
Os próximos dias trarão mais elementos para essa discussão. Na terça-feira, 16, o BC divulga a Ata da reunião do Copom de 10 de dezembro. Na quinta-feira, 18, será a vez das projeções do Relatório de Política Monetária (RPM), que substituiu o antigo Relatório Trimestral de Inflação.