EUA retiram sobretaxa de 238 produtos brasileiros, mas itens industriais seguem com tarifa
EUA retiram sobretaxa de produtos brasileiros

Alívio parcial para exportadores brasileiros

O governo dos Estados Unidos anunciou a retirada da sobretaxa de 40% para 238 produtos brasileiros, em uma decisão que trouxe alívio, mas não completa satisfação ao setor exportador do Brasil. A medida, que é retroativa a 13 de novembro, deixou de fora itens com maior peso na balança comercial entre os dois países, principalmente produtos industrializados.

De acordo com os dados divulgados, os produtos que tiveram as tarifas removidas representam 36% das exportações brasileiras para os Estados Unidos, o equivalente a aproximadamente US$ 14 bilhões em valores financeiros. A decisão ocorre em um contexto de inflação nos EUA que atingiu 3% nos últimos 12 meses.

Setores beneficiados e expectativas

Entre os setores mais beneficiados pela medida estão o café e as carnes, produtos que os americanos importam em grande quantidade do Brasil. Márcio Ferreira, presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil, comemorou a decisão, mas fez ressalvas importantes.

"Realmente, foi uma notícia esplêndida", afirmou Ferreira, destacando que nos últimos três meses o prejuízo do Brasil com os Estados Unidos foi da ordem de US$ 600 milhões. Entretanto, ele lamentou que o café solúvel não foi incluído na lista de isenções.

O setor de frutas também foi um dos beneficiados pela medida. Guilherme Coelho, presidente da Associação dos Produtores de Frutas, expressou otimismo: "Estamos de volta ao jogo, fortes. Então, nós estamos muito felizes para que nós possamos continuar fortes nas exportações". O segmento já vinha mostrando recuperação, batendo recorde de exportações entre julho e setembro.

Pendências e negociações em andamento

Apesar das conquistas, cerca de 64% das exportações brasileiras continuam sujeitas a algum tipo de tarifa adicional, sendo que 22% enfrentam sobretaxas entre 40% e 50%. Entre os produtos que permanecem com tarifas elevadas estão couro, pescados, mel e uma gama de itens industrializados como máquinas, motores, autopeças, aviões e produtos do setor de madeira.

Paulo Pupo, superintendente da Associação Brasileira da Madeira Processada, alertou para os riscos do prolongamento das negociações: "Em média, 50% da nossa balança comercial exportadora é com destino aos Estados Unidos. Cada dia que se arrasta essa negociação, nós vamos perdendo um share de participação que foi construído há décadas no mercado americano".

A Confederação Nacional da Indústria pediu urgência na conclusão de um acordo mais amplo. Frederico Lamego, representante da entidade, explicou que mais de 10 mil empresas brasileiras que atuam nos Estados Unidos continuam sendo prejudicadas pelas tarifas vigentes.

Reações políticas e próximos passos

O presidente Lula comemorou o anúncio americano durante a abertura do Salão do Automóvel em São Paulo, na quinta-feira (21). Em um vídeo publicado em rede social, o presidente fez um agradecimento parcial a Donald Trump: "Eu vou lhe agradecer só parcialmente porque eu vou agradecer totalmente quando tudo estiver acordado entre nós".

O governo brasileiro já apresentou aos Estados Unidos, no dia 4 de novembro, uma proposta detalhada com o que pode oferecer nas negociações. Segundo o vice-presidente Geraldo Alckmin, as discussões envolvem tanto temas tarifários quanto não tarifários, incluindo data centers, inteligência artificial, terras raras e big techs.

Especialistas avaliam que as novas rodadas de negociação com o governo americano vão priorizar outros temas além das tarifas, e o governo brasileiro afirmou estar preparado para essas discussões mais amplas.