BC erra previsão do IPCA e mantém juros altos: custo bilionário
Erros do BC no IPCA custam bilhões com juros altos

O Banco Central (BC) divulgou nesta quinta-feira, 18 de dezembro de 2025, o Relatório de Política Monetária (RPM), documento que substitui o antigo Relatório Trimestral de Inflação. A apresentação foi feita pelo presidente do BC, Gabriel Galípolo, e pelo diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, que deixa o cargo no fim deste mês junto com Renato Brito Gomes, da diretoria de Organização.

Erros consecutivos nas projeções de inflação

Os dados do relatório, que cobre o período de setembro a dezembro, mostram uma sequência de falhas nas previsões. A inflação ao consumidor no trimestre encerrado em novembro ficou 0,32 ponto percentual abaixo do Cenário traçado pelo Comitê de Política Monetária (Copom). O BC já havia errado para cima em agosto, com uma diferença de 0,55 ponto, e repetiu o desvio em setembro, outubro e novembro.

Para dezembro, a instituição já admite outro erro, revisando sua projeção de inflação de 0,53% para 0,41%. Consultorias privadas, como a 4Intelligence, projetam números ainda mais baixos, em torno de 0,38%, o que pode ampliar a margem de equívoco.

O custo bilionário da taxa de juros elevada

A manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em patamar considerado exageradamente alto (15%), diante de uma inflação menor que a esperada, gera um juro real mais elevado e consequências financeiras graves. Cada meio ponto percentual adicional na Selic representa um custo extra de aproximadamente R$ 60 bilhões para o Tesouro Nacional em um período de 12 meses.

Esse cenário tem um impacto exponencial quando se considera os juros bancários cobrados de famílias e empresas. O resultado, segundo análise, é uma tremenda concentração de renda em favor de rentistas e do sistema financeiro.

Motivos para os desvios nas previsões

Segundo o próprio RPM, a principal causa da surpresa negativa na inflação foi a variação abaixo do esperado nos preços dos alimentos consumidos em casa, especialmente itens "in natura" e semielaborados. Entre os preços livres, também houve surpresas para baixo em bens industriais, com destaque para a queda em produtos eletroeletrônicos, e no componente de serviços.

Nos serviços, uma parte significativa da surpresa é explicada por uma forte variação negativa no seguro voluntário de veículos e por um comportamento abaixo do padrão sazonal em serviços bancários. Em sentido contrário, os preços administrados, como a energia elétrica, tiveram variação acima da projetada, influenciados pela bandeira tarifária em novembro.

O BC reconhece que os modelos macroeconômicos estão sujeitos a variáveis complexas, tanto internas quanto externas, como choques climáticos ou decisões de política externa – citando o "tarifaço" do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, em 2025. No entanto, essas falhas sucessivas evidenciam limitações nos modelos que podem levar a decisões de política monetária danosas.

Mudanças na diretoria e possíveis ajustes

Com a saída de dois diretores no fim do ano, abre-se uma oportunidade para o BC reforçar sua diretoria de Política Econômica. Uma sugestão mencionada no cenário analítico é o deslocamento do economista Paulo Pichetti, atualmente na área Internacional, para a vaga que será deixada por Diogo Guillen. Pichetti tem experiência em Contas Nacionais pelo Ibre/FGV.

Os mandatos de Guillen e de Brito Gomes expiram em 31 de dezembro. Com o recesso do Congresso, suas saídas podem ser postergadas até fevereiro de 2026, quando o Legislativo retoma os trabalhos, ou as funções podem ser acumuladas por outros diretores. Os nomes dos substitutos ainda não foram indicados.

O relatório mantém a projeção de inflação para o último trimestre de 2027 em 3,1%, próximo ao centro da meta de 3,00%. O BC reitera que a política monetária age com defasagens longas e incertas, e que seu horizonte para o retorno da inflação à meta geralmente foca em um período de 18 meses à frente.