
Parece que estamos vivendo em realidades paralelas. Enquanto o mercado financeiro segue cantando vitória sobre a inflação, os empresários — aqueles que realmente sentem na pele o dia a dia da economia — estão com os pés bem mais no chão. Ou melhor, no preço.
O último Relatório de Inflação do Banco Central, divulgado nesta quinta-feira, escancara essa divisão que poucos querem admitir. Os números? Bem, eles contam uma história bem diferente da narrativa otimista que tem dominado os noticiários econômicos.
O Abismo das Expectativas
Os empresários projetam uma inflação de 3,70% para 2024. O mercado? Ah, esses sonhadores profissionais apostam em 3,60%. Pode parecer pouco, mas na prática essa diferença significa muito mais do que meros décimos percentuais.
É como se uns estivessem olhando para o mesmo céu, mas enxergassem nuvens completamente diferentes. De um lado, a turma das planilhas e projeções. Do outro, quem lida com fornecedores, custos operacionais e a dura realidade de repassar — ou não — aumentos para o consumidor final.
E Para 2025 a Coisa Piora
Se a divergência para este ano já preocupa, espere até ver as projeções para o próximo. Os empresários anteveem 3,78% em 2025, enquanto o mercado mantém sua visão mais benigna de 3,50%.
Essa lacuna de quase 0,3 ponto percentual não é mero acaso estatístico. Ela reflete, na minha opinião, a desconexão perigosa entre quem analisa números em escritórios climatizados e quem precisa administrar negócios no calor da economia real.
O Que Está Por Trás Desse Ceticismo Empresarial?
Bom, vamos pensar juntos. Os empresários não são pessimistas por natureza — pelo contrário, normalmente são os maiores otimistas do mundo. Se eles estão projetando inflação mais alta, é porque:
- Estão sentindo na prática as pressões de custos que ainda não aparecem claramente nos índices oficiais
- Anteveem dificuldades na cadeia de suprimentos que podem se refletir em preços
- Desconfiam que a desaceleração econômica pode não ser suficiente para conter certas pressões inflacionárias
Não me leve a mal — não estou dizendo que o mercado está totalmente errado. Mas há algo a se considerar: quem geralmente acerta mais essas projeções? Os teóricos ou os práticos?
Um Sinal de Alerta Para o Copom
Essa divergência chega em um momento delicadíssimo para a política monetária. O Comitê de Política Monetária já iniciou seu ciclo de afrouxamento, mas será que não está sendo excessivamente confiante?
Os juros básicos da economia brasileira vêm caindo, sim. Mas e se os empresários — com seu faro apurado para as realidades do chão de fábrica e do balcão do comércio — estiverem certos?
Pensando bem, não seria a primeira vez que a visão de quem está na trincheira do dia a dia acerta mais que as projeções dos iluminados do mercado financeiro. A história econômica recente está aí para provar.
E o Consumidor No Meio Disso Tudo?
Enquanto essa disputa de narrativas segue, o brasileiro comum continua fazendo suas contas no supermercado, na farmácia, no posto de gasolina. Para ele, pouco importa quem está certo nas projeções — o que vale é o preço que paga na hora da compra.
E cá entre nós, quando foi a última vez que você sentiu os preços realmente baixando? Exatamente.
O relatório do BC, na prática, funciona como um termômetro da confiança — ou da falta dela — na trajetória inflacionária. E os números sugerem que ainda há motivos de sobra para manter os pés no chão, por mais que o mercado insista em voos mais altos.
Resta saber quem, no final das contas, terá acertado o palpite. Mas uma coisa é certa: enquanto essa divergência persistir, o caminho para a estabilidade de preços permanecerá cheio de incertezas.