A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos atravessa uma das maiores crises econômico-financeiras de sua história, com prejuízos consecutivos há três anos. Desde 2022, são 12 trimestres seguidos de resultados negativos, situação que persiste tanto no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro quanto na atual gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.
No primeiro semestre de 2025, o déficit da empresa pública alcançou a marca preocupante de R$ 4,36 bilhões, valor que representa gastos superiores à receita gerada no período. A situação crítica levou a estatal a anunciar, em outubro, a busca por um empréstimo de R$ 20 bilhões para tentar conter a crise.
Fatores que levaram à crise dos Correios
Diversos elementos contribuíram para o agravamento da situação financeira dos Correios. Os gastos com pessoal representam um dos principais fatores, com impactos significativos nas contas da empresa ao longo dos últimos anos.
Entre 2022 e 2024, os reajustes salariais concedidos aos funcionários tiveram um efeito cascata nas despesas. Em 2022, dois reajustes - de 9,75% e 10,12% - geraram um impacto de R$ 820,5 milhões. No ano seguinte, o segundo reajuste causou um impacto adicional de R$ 1,3 bilhão para 2023.
Em 2024, a situação se manteve crítica com um novo acordo coletivo que concedeu até 6,57% de reajuste para 71 mil empregados, além de um aumento de 30% na base salarial. O impacto na folha de pagamento foi de R$ 894 milhões somente naquele ano.
Impacto do programa Remessa Conforme
Outro fator determinante para a crise foi a implementação do programa Remessa Conforme pelo Ministério da Fazenda em 2023. A medida, conhecida como "taxa das blusinhas", permitiu que empresas de transporte concorrentes realizassem o frete de mercadorias internacionais pelo Brasil, rompendo o monopólio dos Correios nessa atividade.
Um estudo interno da empresa revelou que a estatal teve uma frustração de receita de R$ 2,2 bilhões após a implementação do programa. As demonstrações financeiras de 2024 confirmaram uma redução de R$ 531 milhões na receita com encomendas internacionais em relação a 2023.
Para o primeiro semestre de 2025, a situação se agravou ainda mais: os Correios obtiveram R$ 815 milhões com encomendas internacionais, uma redução de R$ 1,3 bilhão em comparação com o mesmo período de 2024, quando registraram R$ 2,1 bilhões.
Medidas para conter a crise
Diante do cenário crítico, a nova gestão dos Correios aprovou, nesta sexta-feira (21), um plano de reestruturação que busca equilibrar as contas da empresa. O plano se divide em três eixos principais: corte de despesas operacionais e administrativas, diversificação de receitas e recuperação da liquidez.
Entre as medidas anunciadas está a abertura de um novo Plano de Demissão Voluntária (PDV), a venda de imóveis ociosos e a renegociação de contratos com fornecedores. A empresa também buscará ampliar sua receita por meio de novos produtos, incluindo o lançamento de um marketplace próprio ainda em 2025.
O atual presidente da empresa, Emmanoel Schmidt Rondon, justificou a busca pelo empréstimo de R$ 20 bilhões como forma de diminuir a taxa de juros contratada na gestão anterior e dar fôlego ao caixa da empresa. O dinheiro seria usado para liquidar empréstimos em aberto e financiar a reestruturação a longo prazo.
A crise dos Correios representa um dos maiores desafios do atual governo para manter operacional uma empresa que garante serviços postais em todos os 5.567 municípios brasileiros, mesmo com 85% de suas unidades sendo deficitárias.