Correios acumulam 13 trimestres de prejuízo e projeção é alarmante
Correios: 13 trimestres no vermelho e prejuízo bilionário

Os Correios enfrentam uma das piores crises de sua história, com prejuízos que se acumulam trimestre após trimestre e projeções que assustam pelo volume bilionário. A situação da empresa pública brasileira chegou a um ponto crítico que exige medidas urgentes para evitar um colapso financeiro ainda maior.

Números que assustam: a dimensão da crise

Os dados mais recentes divulgados nesta sexta-feira (28) revelam que os Correios já registraram um prejuízo de R$ 6 bilhões no acumulado de 2025. No primeiro semestre, o rombo era de R$ 4,36 bilhões, mostrando que a situação se agravou significativamente nos últimos meses.

O resultado confirma uma sequência preocupante: são 13 trimestres consecutivos no vermelho desde o final de 2022. Mas o pior pode estar por vir. Projeções internas da própria estatal indicam que, se nada for feito, as perdas podem atingir R$ 10 bilhões em 2025 e saltar para R$ 23 bilhões em 2026.

As causas estruturais do problema

Para o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Armando Castelar, dois fatores principais explicam a deterioração financeira dos Correios. O primeiro é de natureza tecnológica: atividades que antes eram centrais para a estatal perderam relevância com a digitalização.

"O envio de cartas, que era uma das principais funções dos Correios, deixou de ser comum e foi substituído pelos e-mails. O trabalho tradicional dos Correios se tornou menos relevante", explica Castelar.

Há ainda um componente político que influencia negativamente a gestão da empresa. O economista lembra que, historicamente, cargos estratégicos na estatal sofrem influência de interesses partidários. "Muitas vezes, indicações são feitas não porque a pessoa é um grande gestor e conhece o setor, mas pela formação de coalizões", destaca.

Auditoria revela problemas contábeis

A crise não se limita aos resultados operacionais. Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou que os Correios deixaram de registrar R$ 1 bilhão em perdas no balanço de 2023. Esse valor está relacionado a diversas decisões judiciais desfavoráveis à instituição que não foram contabilizadas adequadamente.

Governo descarta privatização

Em entrevista à GloboNews, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que não há discussão dentro do governo sobre a privatização dos Correios. "Não vejo um debate no governo sobre privatizar os Correios. Não vejo isso acontecer da parte de nenhum ministro que tenha proposto isso", declarou.

Segundo Haddad, seria "muito difícil um Estado nacional abrir mão de serviços postais", que têm como missão garantir a universalização do atendimento. No entanto, especialistas alertam que a visão do governo pode não ser a mais adequada para resolver a crise.

Medidas em andamento

A nova gestão dos Correios, que assumiu o comando da estatal em setembro, aprovou na semana passada um plano de reestruturação e pretende concluir a contratação de um empréstimo até o fim deste mês.

O plano se baseia em três pilares principais:

  • Recuperação financeira
  • Consolidação do modelo de negócios
  • Crescimento estratégico

Entre as ações previstas estão um programa de demissão voluntária, reestruturação da rede de atendimento e venda de ativos e imóveis. O Ministério da Fazenda já solicitou aos Correios dados detalhados, projeções e as medidas planejadas para recuperar a sustentabilidade financeira.

Apenas após essa análise o governo deve definir eventuais intervenções. Embora seja uma estatal independente — ou seja, não recebe aportes diretos do Tesouro —, o déficit dos Correios interfere na meta fiscal. A piora de quase R$ 3 bilhões no resultado previsto para 2025 obrigou o governo a cortar despesas de ministérios, para evitar descumprimento da regra fiscal.

Enquanto isso, especialistas como Marcus Pestana, economista e ex-integrante do Conselho de Administração dos Correios, alertam que a situação financeira da estatal é "crônica e sem saída". Ele adverte que recorrer a empréstimos para pagar passivos de curto prazo não resolve o problema fundamental.