
Parece piada, mas a realidade é amarga. Enquanto você rala pra caramba e vê uma parte significativa do seu suado salário sumir em descontos, os verdadeiros nababos do país seguem com a vida leve — pelo menos no que diz respeito ao fisco. Um estudo recente, feito pelos pesquisadores do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da USP (Made/USP), escancara uma das maiores distorções do Brasil: a classe média alta é quem segura a barra dos impostos.
Pois é. A conta não fecha e o cidadão comum é quem se ferra. A pesquisa, capitaneada pelo economista Marc Morgan, pegou os dados mais recentes da Receita, de 2022, e botou na ponta do lápis. O resultado? Quem recebe entre R$ 6.000 e R$ 50.000 por mês paga, proporcionalmente, mais imposto de renda do que a galera que está no topo da pirâmide. Sim, você leu direito.
O Pico da Injustiça: R$ 20 Mil
A coisa fica ainda mais surreal quando a gente olha para quem ganha em torno de R$ 20 mil mensais. Esse grupo, formado majoritariamente por assalariados de alto escalão — gerentes, diretores, médicos experientes —, chega a pagar uma alíquota efetiva de até 14.5%. Agora se prepara... quem aufere mais de R$ 160 mil por mês vê essa taxa despencar para míseros 10.5%. Algo está podre no reino da tributação, e não é de hoje.
O cerne do problema, segundo o estudo, não é exatamente um segredo: a forma como lucros e dividendos são tratados. Enquanto o seu salário é taxado na fonte, mês a mês, sem piedade, os rendimentos de capital (aqueles que vêm de investimentos e participações em empresas) dos mais ricos... bem, esses simplesmente escapam ilesos. É uma isenção que beira o absurdo e cria um abismo de injustiça.
Não é Bug, é Feature do Sistema
Não se engane pensando que isso é um acidente. É um desenho proposital, uma característica intrínseca do nosso sistema tributário, que pesa desproporcionalmente sobre o trabalho e alivia o capital. O Imposto de Renda aqui é regressivo para os mais ricos — um termo chique para dizer que, depois de certo ponto, quanto mais você ganha, menos porcentagem paga. Que beleza, hein?
E olha que a coisa é ainda pior para quem está no começo da escada. Quem recebe de R$ 6.000 a R$ 10.000 já sente o baque, com uma carga que pode chegar a 8.5%. É um valor que faz falta no final do mês, com certeza. Agora imagine a frustração de descobrir que quem tem milhões paga uma taxa menor. Dá vontade de chorar ou de quebrar tudo.
Os especialistas são claros: sem uma reforma que acabe com a isenção de dividendos e integre todas as fontes de renda, essa distorção vai continuar. É uma chave para reduzir a brutal desigualdade que assola o país. Enquanto isso, o assalariado segue sendo o patinho feio do Leão, que para alguns ruge, mas para outros só dá um miado bem fraco.