
Eis uma daquel situações que fazem o consumidor coçar a cabeça e se perguntar: cadê a tal economia que tanto anunciam? Uma pesquisa fresquinha do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP joga luz sobre um paradoxo intrigante. Os preços no atacado – aquele negócio entre produtores e grandes redes – deram uma bela escorregada. Mas pasme: essa queda ainda não deu as caras no varejo, onde a gente realmente sente o baque no bolso.
O caso da carne bovina é particularmente emblemático. Sabe aquele alcatra suculento ou a picanha dos finais de semana? Pois é. No atacado, o preço despencou mais de 11% só no acumulado do ano. Onze por cento! Uma queda dessa magnitude deveria, em tese, fazer a festa do consumidor. Mas a realidade nas prateleiras é teimosa e segue cobrando preços que deixam qualquer um com água na boca... e o wallet vazio.
O que dizem os números (e o que eles escondem)
O estudo do Cepea, sempre preciso em seus levantamentos, apurou que a queda não foi um fenômeno isolado. O hortifrúti, aquela seção colorida e cheia de vida do supermercado, também apresentou recuos expressivos. Tomate, cebola, batata – itens básicos da cesta do brasileiro – tiveram seus valores reduzidos no atacado. A lógica econômica mais básica gritaria que isso deveria se refletir rapidamente no varejo. Só que a economia real, ah, a economia real tem dessas complexidades.
Especialistas ouvidos pela reportagem apontam um leque de razões para esse descompasso. Os custos logísticos – transporte, armazenagem, embalagem – continuam nas alturas, com o preço do diesel ainda pesando como uma âncora. Além disso, as grandes redes varejistas muitas vezes operam com contratos de médio prazo, o que significa que compram mercadoria hoje para revender nas próximas semanas. Traduzindo: a carne mais barata que chega hoje no distribuidor pode ser justamente a que será vendida a preço cheio daqui a 15 ou 30 dias. Uma demora frustrante para quem precisa encher o carrinho agora.
O lado psicológico da equação
E não é só uma questão de números frios. Existe um fator comportamental, quase um jogo de xadrez psicológico, nessa história toda. Quando os preços sobem, a alta é imediata – parece que há um sensor ultrassensível para o aumento. Já na hora da baixa... bem, aí a coisa anda a passos de tartaruga. Os varejistas, claro, relutam em repassar quedas rapidamente, buscando recuperar margens de lucro que foram comprimidas durante o período de alta generalizada. Quem paga o pato? Nós, é claro.
O resultado prático? O consumidor médio do interior paulista – de cidades como Campinas, Ribeirão Preto ou São José do Rio Preto – segue fazendo malabarismos no orçamento. A expectativa por um alívio, que parecia tão tangível com a notícia da queda no atacado, se esvai diante das etiquetas ainda salgadas. É um daqueles momentos em que a teoria econômica e a prática do dia a dia parecem habitar universos paralelos.
Resta torcer – e acompanhar os próximos boletins – para que essa defasagem seja encurtada. Afinal, comida no prato é necessidade básica, não luxo. E o bolso do brasileiro já está mais do que cansado de esperar.