Brasil lança Estratégia Nacional de Descarbonização Industrial na COP30
Brasil lança plano para cortar emissões da indústria

O governo brasileiro deu um passo crucial na transição para uma economia verde ao lançar oficialmente a Estratégia Nacional de Descarbonização Industrial (ENDI) durante a COP30, em Belém. A iniciativa marca o primeiro movimento concreto para reduzir as emissões de carbono em setores industriais que historicamente ficaram à margem das políticas climáticas do país.

O que propõe o plano de descarbonização

O vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin liderou o anúncio no Pavilhão Brasil, destacando que a estratégia tem como objetivo principal orientar a transformação de segmentos considerados de difícil descarbonização. Entre os setores prioritários estão cimento, aço, vidro, químicos, alumínio e papel e celulose.

Embora representem aproximadamente 10% das emissões nacionais, essas indústrias concentram alto consumo de energia e ainda dependem majoritariamente de combustíveis fósseis. A consulta pública ficará aberta até 17 de janeiro de 2026 na plataforma Brasil Participativo, com a versão final da estratégia prevista para janeiro.

O plano está organizado em quatro pilares fundamentais:

  • Pesquisa, inovação e capacitação: desenvolvimento de tecnologias nacionais e qualificação de mão de obra
  • Insumos descarbonizantes: substituição de combustíveis fósseis por biomassa, hidrogênio verde e materiais reciclados
  • Estímulo à demanda: certificações e políticas de compras públicas para produtos de baixo carbono
  • Financiamento: novos instrumentos de crédito, garantias e incentivos fiscais

Desafios da transição industrial

O lançamento foi marcado pela assinatura de uma carta de engajamento entre o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e representantes de setores energointensivos. O gesto simboliza a necessidade de cooperação entre governo e iniciativa privada para viabilizar a transição.

Alex Carvalho, presidente da FIEPA e vice-presidente da CNI, foi enfático ao afirmar que a transição só avança se vier acompanhada de ganhos econômicos. Já Davi Bomtempo, superintendente de Meio Ambiente da entidade, reforçou que setores de alto consumo energético precisam de previsibilidade, inovação e crédito para aderir ao programa.

Competitividade no cenário global

O governo brasileiro tenta conciliar dois objetivos aparentemente contraditórios: atender às pressões internacionais por redução de emissões e manter a competitividade de setores que sustentam parte expressiva do PIB industrial. Alckmin defendeu que a proposta pode reposicionar o Brasil no tabuleiro industrial global.

"A indústria do futuro é de baixo carbono. E fortalece a produção nacional e aumenta nossa competitividade em um cenário que exige baixas emissões", declarou o vice-presidente durante o evento.

O governo também pretende fomentar novas cadeias verdes, especialmente ligadas a insumos de base biológica e ao processamento de minerais estratégicos, área na qual o Brasil busca ocupar posição de destaque no contexto geopolítico da transição energética.

Apesar do discurso otimista, a implementação da estratégia enfrenta obstáculos significativos, incluindo custos elevados e disputas por competitividade. A assinatura da carta de engajamento na COP30 funcionou como um gesto simbólico, mas não resolve a equação central: quem pagará a conta da transição e em que ritmo ela ocorrerá.

O sucesso da iniciativa dependerá da capacidade do governo em transformar a adesão formal do setor privado em ações concretas de implementação, garantindo que a indústria brasileira não fique presa a uma matriz intensiva em carbono que a tornaria obsoleta diante de regulações mais rígidas em seus principais mercados externos.