Copom enterra corte de juros em janeiro com ata que reforça juros altos por 'bastante prolongado'
Ata do Copom enterra chance de corte de juros em janeiro

O Banco Central (BC) divulgou, nesta terça-feira (16 de dezembro de 2025), a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada. O documento detalha os motivos que levaram à decisão unânime de manter a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano, e deixa claro que um eventual ciclo de cortes não deve ter início já no próximo encontro, marcado para janeiro.

Incerteza externa e cautela prolongada

A leitura do cenário internacional foi um ponto central para justificar a postura cautelosa do comitê. A ata menciona, logo no início, que "o ambiente externo ainda se mantém incerto", com reflexos nas condições financeiras globais. A palavra "incerteza" aparece de forma recorrente, sempre associada a tensões geopolíticas e ao balanço de riscos para a inflação.

Para os membros do Copom, esse quadro exige uma dose extra de prudência por parte das economias emergentes, como o Brasil, e reduz o espaço para manobras rápidas na política monetária. A mensagem transmitida é que o grau de imprevisibilidade permanece elevado demais para qualquer guinada na estratégia.

Inflação e expectativas: o cerne do problema

No front doméstico, o comitê reconheceu uma moderação na atividade econômica, mas tratou essa informação com reservas. Embora os indicadores mostrem uma desaceleração do crescimento, conforme o esperado, o mercado de trabalho segue resiliente e em patamar apertado, com apenas sinais iniciais de um possível desaquecimento.

Esse cenário ajuda a explicar a persistência da inflação de serviços. A ata admite uma melhora recente nos índices de preços, mas aponta que o núcleo do problema está nas expectativas. Tanto a inflação cheia quanto as medidas subjacentes continuam acima da meta, e as projeções para os próximos anos permanecem desancoradas em todos os horizontes analisados.

O texto é enfático ao afirmar que "o custo de desinflação é maior em ambientes com expectativas desancoradas". Essa avaliação levou a uma das passagens mais duras do documento, que praticamente elimina qualquer expectativa de corte iminente: "em um ambiente de expectativas desancoradas, como é o caso do atual, exige-se uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado".

Riscos fiscais e a mensagem final

A política fiscal do governo voltou a ser um tema de destaque e preocupação durante a reunião. A ata alerta que o esmorecimento nas reformas estruturais e na disciplina fiscal, somado ao aumento do crédito direcionado e às incertezas sobre a dívida pública, têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia.

Esse movimento, por sua vez, traria impactos negativos sobre a potência da política monetária e aumentaria o custo do combate à inflação em termos de atividade econômica. O Copom destacou, mais uma vez, a necessidade de políticas fiscal e monetárias atuando de forma harmoniosa.

Ao final, o comitê amarra todas essas análises em uma conclusão contundente: "o cenário prescreve uma política monetária significativamente contracionista por período bastante prolongado". A repetição quase didática da expressão "bastante prolongado" é o principal indicador de que os juros devem permanecer no patamar atual por um bom tempo. Para deixar claro, o BC ainda reforçou que não hesitará em retomar o ciclo de alta da Selic se o cenário assim exigir.

As projeções do Copom reforçam essa visão. No cenário de referência, a inflação estimada para 2025 é de 4,4%, convergindo para níveis próximos da meta apenas no horizonte mais longo, com uma previsão de 3,2% para o segundo trimestre de 2027.